A definição da condição humana: a mudança

Ultimamente tenho pensado muito sobre mudança, especialmente nos últimos dias. Definimos mudança como uma necessidade da alma humana: nosso espírito algoz não é conformado com a rotina monótona e estandardizada da atualidade. Nessa perspectiva, as "mutações" necessárias em nossas vidas vão de extremos a outros - de viagens e simples cortes de cabelos à parar de fumar ou beber. Tornando-se, dessa forma, uma verdadeira revolução do cotidiano.

Geralmente, quando se fala a respeito de mudanças drásticas, o incentivo a esta surge apenas quando não se há nada a perder, quando, realmente, a necessidade de convergência em outros pontos é necessária; mas e quando há algo a perder? Seria um indício da insanidade largar tudo resguardado até o momento e buscar novas perspectivas? Ou será que nossa ética social apenas se submeteu ao conformismo? Se a ideologia do risco é tão obsoleta e errada, como explicar as perigosas estratégias dos grandes magnatas atuais? Seriam suas riquezas e empreitadas comerciais apenas produtos do devir? É interessante como construímos o mundo perfeito para terceiros e não possuímos a capacidade de estimular o mesmo em nossa persona.

No último domingo peguei um ônibus a caminho do shopping para assistir um filme. Enquanto esperava na parada, o ônibus de maior trajeto ao meu destino parou, refleti: porque não mudar o caminho corriqueiro? Entrei no ônibus que demorava mais 30min que o normal e, assim, tive oportunidade de pensar e construir esse texto. O mundo capitalista de hoje preza demasiadamente o tempo: faça mais em menos tempo, agilize, mais e mais, menos nunca. Nessa falta de "paradas" no dia, impossibilita-se a reflexão sobre o que essa efemeridade faz com nossas vidas: relações cada vez mais superficiais, menos amigos e mais colegas, abominação da intimidade. No mundo do status social, em que o privado perdeu-se meio ao público, pregamos a obsolescência do amor e das portas sentimentalistas. É fraqueza, é falta de caráter e, com certeza, é se meter em problemas; há problemas suficientes na vida individual, por que agregar mais juntando outra pessoa? Tenho 17 anos e a denominação de piegas pode ser empregada sobre mim, não me importo, sinto saudades de uma época não vivida por mim onde a mais valia era o próximo e não sua produção.

Quando estudamos o ciclo de divisões celular na biologia, vemos que, durante a divisão meiótica, nossas unidades-base passam por um processo denominado "crossing-over" ou permutação. É nessa fase de recombinações que nossa diversidade genética é garantida. Interessante como a mudança está presente em todos os estágios da vida humana, até mesmo em sua formação simples de divisão celular; ainda assim, abominamos a mudança com o simples argumento do desconhecer do destino. Podemos, dessa forma, viver na eterna fase de G-0 - período em que a célula não se divide, consequentemente não recombina suas características. Estagnados no tempo, sem evolução, sem darwinismo, sem existir. A mudança é intrínseca do ser humano, é necessária e imprescindível. É redundante por si só.

Portanto, mude suas perspectivas. Mesmo que haja ou não algo a perder. Inicie com o simples e supérfluo, corte o cabelo de forma diferente, pegue um trajeto diferente do comum, a experiência fomenta o espírito questionador e este estimula o racionalismo concreto: o entendimento do mundo ao redor. Depois disso, aprofunde suas mudanças, escute novas músicas, estude novas coisas, analise-as propriamente e escreva o que entendeu sobre elas. A mudança do estilo de vida é, talvez, a parte mais difícil da própria mudança: não somos capazes do desprendimento completo, até porque captamos cada caco de vivência na formação do nosso ser. Portanto, pare mais frequentemente e reflita, transforme a mudança em algo comum, solte o medo medieval do desconhecido. Viva, no sentido mais piegas e sentimentalista possível, use estrangeirismo e seja nacionalista ao mesmo tempo. Arrisque, até porque, no fim, se tudo desandar, a mudança sempre vai ser estimulada.