CONHECI UM MENINO

Eu conheço um menino

Que contava em três mãos

Os anos que tinha.

Depois de um tempo,

Somaram-se dois dedos.

Então, em dois dedos ele amou,

Destas quase quatro mãos

Que teve o ensejo de viver.

O menino tinha os cílios tão belos

Quanto o amor que sentia.

Quando só em duas mãos

Sua idade cabia,

Tinha umas brincadeiras

Uns inimigos de cavalaria

E usava o lençol contra lanças.

Quando naqueles dedos

Cada dia nascia o sol

Lá se garantia sorrindo, o menino.

Tinha tantos louros a colher,

Hoje nem mais respira como antes.

Eu conheci um menino

Eu posso no passado dizer?

Não, pois o encontrarei no destino.

Quando serei eu a morrer

Ungirei então suas asinhas.

Faltam mãos para contar

O tamanho do meu vazio

Tão calmo era o meu coração

Quando podias esfregar minha mão

Dizendo não estar com frio.