Sobre a saudade

Sobre a tal saudade, que bate forte em mim, momentos simples em que estou eu, engatando a marcha do carro, e me vem um cheiro de infância. E me vem a vontade de engatar ré na minha vida.

Eu ainda não sentei e chorei como deveria, faz quase dois anos que tudo aconteceu, mas ainda não me dei chances pra deixar a saudade lacrimejar.

Ainda queria sentir o cheiro do cigarro de palha do meu avô, o cheiro do bolinho de chuva da minha avó.

Ah minha avó, quanta saudade ainda sinto... quanta vontade de ouvir seu bom dia. Eu sei o quanto a senhora sabe desse sofrimento que vem ocorrendo dentro de mim desde o dia que a senhora se foi, desde o último almoço que lhe dei na boca. Triste me despedir de tudo no mesmo dia em que deveria estar apenas comemorando seu aniversário. Ah minha vó... quanta coisa acontece, e eu queria não ter ouvidos, eu queria não entender. Eu queria poder trazer paz a toda minha família novamente. TODA MINHA FAMÍLIA. Eu queria os domingos de volta, os abraços e beijos da minha pequena. Tudo foi levado, ficou apenas a ganância. A dor de que talvez nada nunca volte a ser como antes. Por tantas vezes eu pensei, que o que é nosso, deveria ser apenas nosso, não de herdeiros. Pensei que talvez conseguisse tocar o pensamento amargo de quem quer apenas os "direitos", e que pensassem que o maior direito que Deus lhes deu foi o de ter, pra sempre ao lado, uma família amorosa. A família se desfez, e a senhora, dai, vê e sofre com tamanha rebeldia, com tamanha sede por riqueza (riqueza?).

Talvez eu esteja escrevendo não apenas para a senhora, mas também para minha amada prima, de quem sempre me orgulhei, a quem sempre quis, e sempre irei desejar o melhor. Que culpa temos de tudo isso? Sempre fomos unidas, criadas juntas, diferentes, iguais. Dói demais essa saudade... Mas obrigado por sempre pensar em mim, como sei que faz. Tantas vezes quis ouvir seus conselhos, sua risada, seu OI.

Ah prima, o que houve com tudo? Sabe, dentro de mim não há mágoa, rancor, raiva. Eu quero apenas que tudo de certo para nós. Para a minha família e para a sua (quem antes eram uma só). Quero que saiba que não compreendo o porque de tudo isso. Tudo que poderia ter sido feito com uma conversa, mas fomos pegos de surpresa, levados a crer que tudo que foi erguido pelas mãos trabalhadoras estavam sendo tirados de nós, tirados... será? Sei que seu sentimento pela vó não era tão forte quanto o meu, que almoçava dias e dias na sua sala, enquanto você estava em outra cidade... mas ainda temos no nosso sangue mesmo amor.

Mas digo-lhe... tudo vai se resolver. O que é seu, será sempre seu. O que construir, lhe terá sempre valor. O que semear, irá colher de forma gloriosa. Então... o bem, sempre o bem. Escolha o lado bom, a música alegre, o livro certo, o filme de comédia.

Dois anos se passaram, e talvez muitos ainda se passem até que nos reencontremos, então entenda apenas, estarei de braços abertos, e lhe convidarei para momentos importantes, e lhe direi: eu senti sua falta.

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Daiane Lopes
Enviado por Daiane Lopes em 18/06/2014
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