EU ME ENGANEI, MULHER




 
        Eu me enganei, mulher. Agora sei que tuas palavras de paz, de aceitação de mim, de "perdão" pelo crime que não cometi, que nunca cometi, não eram, tais palavras, para mim. Não foram para mim. Sou mesmo demasiado tola, acreditei em algo como um milagre, algo que não ocorreu. Agora sei que nada mudou em ti com relação a mim. Sei que desse espaço onde estás, que não é o mesmo que o meu, continuas a não me saber, a não saber nada, nada de mim. Para nós só há um espaço comum, que não é o espaço do Recanto nem os espaços da vida "real". Apenas um espaço comum. Apenas um. Perdoe-me:  por não pertenceres ao Recanto, dou graças a Deus. Em algum lugar tenho que ter alguma paz. Em algum lugar...
        Fazer o quê... Estou só e triste, mais só e triste do que já costumo estar e isso é quase além do suportável, quase além... Seja como for, as minhas palavras de paz ainda irão vencer; ainda irão vencer. Nem que seja noutra vida. Amém.