(Doutores da alegria, Os Doutores da Alegria tem como missão promover a experiência da alegria na adversidade por meio da arte do palhaço. Desde 1991, atua junto a crianças hospitalizadas, seus pais e profissionais da saúde, colaborando para a transformação do ambiente onde se inserem, wikipedia).
 
AS ATRIBUIÇÕES DA ARTE NA EXISTÊNCIA HUMANA
 
Estive pensando sobre questões existenciais e o papel da arte em nossas vidas. Você pode está se perguntando; qual é a relação entre ambos? O que vou escrever é apenas uma tentativa, um esboço literário, uma provocação. Sem pretensões que seja um ensaio, tampouco artigo.
  Para atender a pergunta introdutória eu direi intuitivamente que a arte tem a função de preencher parte de nosso vazio existencial que as nossas relações interpessoais (amizade, namoro, casamento etc.) não são capazes de preencher. Quando falo arte, este conceito é mais expansivo do que muitos possam imaginar, refiro-me não apenas a arte em si, mas também a literatura, a música, o belo, o sublime, etc. Quem nunca sentiu um prazer sublime lendo um bom livro, ouvindo aquela música? Quem é capaz de dizer que os “grandes” poetas não contribuem para tonar nossa existência mais bela e contente? . Vezes o que precisamos não é necessariamente a companhia de alguém, mas simplesmente ir sozinho a uma exposição de artes, assistir um bom filme, está consigo mesmo não significa solidão "se você sente tédio quando está sozinho é porque está em péssima companhia" ( Sartre). Não estou pregando um individualismo solitário, apenas para tornar mais nítido o que estou dizendo, pois alguns poderiam dizer que seria apenas um pretexto para se ter a companhia de alguém, embasando a relevância da Arte. E isso também não implica que não possamos viver esses momentos felizes proporcionados pela arte com amigos ou um grande amor. Entenda o que eu digo. Pois através da arte podemos nos comunicar com o outro através de nossos sentimentos, da manifestação daquilo que é mais intrínseco a nossa essência de ser. Gerando um diálogo, uma comunicação de coração para coração.
  Talvez pensando nisso que Ludwig van Beethoven certa vez disse “a música é capaz de reproduzir, em sua forma real, a dor que dilacera a alma e o sorriso que inebria”. Arte implica em criação, arte implica em empirismo, afeições dos sentidos, que são nossos sentidos mais básicos da existência humana; a sensibilidade. As tragédias clássicas da Grécia antiga refletiam elementos da vida codiana das pessoas, seus anseios, suas paixões, vontades. Não obstante os Deuses possuíam de certa forma características humanas, vícios, paixões... A arte imitando a vida e a vida imitando a arte, uma confluência de fluidos da vida. A vida é manifestação, vida não é conceito.
  Quando procuramos preencher nosso vazio existencial apenas nas relações intersubjetivas parece-nos que algo fica faltando, um sentimento de incompletude. Penso que possa está faltando um pouco de arte para você colorir a vida. Se olharmos também numa perspectiva espiritualista, veremos que a tradição religiosa se apropria muito da arte, com seus símbolos, significações, manifestações de ser. Embora existam suas distinções. A arte também possui uma dimensão metafísica assim como o espiritualismo, pois ao mesmo tempo em que faz parte de nossas sensações exige certo desprendimento, reclama elevar-se a uma instância superior para contemplação, espanto, maravilhamento. O sublime pode causar desconforto, mas quando ultrapassado a zona de desconforte vem a alegria, o belo traz em si uma espécie de harmonia, calma, tranquilidade disse Kant. O desconforto e a harmonia são coisas corriqueiras a nossa existência e bem presentes na arte. Quem não sente espanto diante de uma expressão artística de Rembrandt ou harmonia e suavidade diante de um campo na primavera ou a melancolia do outono?
Assim, uma vida sem expressões da arte impressa na alma é como uma folha seca no outono ao sabor do vento. Levemos nossas crianças ao cinema, lermos bons livros à elas, pois a educação bem orientada podem obter da arte muitos prazeres. A arte está acessível não apenas o homem “letratado, culto” está presente na vida do homem do campo (seus costumes, forma de vida), do homem da favela, do homem do asfalto. Não vejo a necessidade de escravizar economicamente o próximo para dedicar-me ao ócio fecundo que a arte proporciona e enriquece a vida humana em sua infinita possibilidades. Que arte venha cultivar em nossas vidas o sentido da vida, que com ela possamos manifestar os nossos sentidos, emoções, paixões. E que ela nos indique uma estrada, seja na planície ou abeira do precipício. Garanto que a razão saltará de alegria, que a existência tornar-se se há mais feliz. É isso aí.