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Eu sou isso. Isso e nada mais, isso que agora toco, sinto e vejo em meu reflexo. Entenda, esse reflexo não é feito apenas da minha face. É feito de tudo que é contido em mim. Dos instantes que, por alguma razão eu guardei; das mínimas palavras que não consigo esquecer e criar significados inexistentes, dos gostos e toques, dos cheiros nos abraços que me salvaram. Das infinitas letras de música que escrevi em cantos de caderno e mesas de escola, dos desenhos feitos à caneta nas paredes dos banheiros, das dores de garganta de tanto cantar, dos sorrisos que nem eram pra acontecer. Das pessoas, sim.

Com toda a certeza desse mundo, as pessoas! Do que elas fizeram de mim, deram-me e levaram também, das cicatrizes e dores que hoje até gosto de lembrar. Das incontáveis sensações que sem nem saber, me provocaram. Do que me fizeram imaginar, das sementes de possibilidades em largar a solidão de uma vez. De você, independente de quem for. O que faz-me enxergar, querer, perguntar e tentar com mínimo sorriso polido que me oferece, cumprimento, aceno por educação. E daqueles que amo. Entenda-- são tantos! São colegas, amantes perdidos, amigos de anos, modelos do tipo de pessoa que quero ser. Tento ser, de todas as maneiras que consigo imaginar.

Me esforço, me esfolo, me machuco para conseguir, para alcançar a imagem que esses deixam para me fazer inveja. Tudo para no fim do dia, ver-me novamente. Ver meu rosto no espelho, limpo, real. É quando percebo que não há necessidade de mudar: se eu os amei, foi pelas belezas que me mostraram. Elas são suas e de mais ninguém, e eu jamais irei fazer parte de tua composição. Mas posso continuar, posso respirar sem esse sentimento de vazio, sei que posso.

Sei, sinto e acredito que existe algo valoroso em mim para carregar. Algo que ainda possa florescer, desabrochar ou talvez, imagine só, já exista! É um pensamento absurdo para mim, mas preciso segurar-me nele. Na crença de que sim, ainda há alguma saída desse labirinto, infinito de corredores estreitos em que estou: que ainda posso ser, de alguma maneira, a beleza dos olhos noutra pessoa. E por agora, somente por agora, contento-me bem aqui. Aqui, apoiada no batente da janela só vendo-lhes passar e querendo-os de longe, esperando que olhem de volta e deem-me, só mais uma vez, aquele sorriso gostoso que me faz tão bem.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 31/07/2014
Reeditado em 31/07/2014
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