Da janela do 18° andar

Tinha algo incompleto no meu dia. Me sentia vazio. Logo acendi um cigarro, mas dessa vez ele não saciou minha vontade. Me debrucei na janela do 18° andar, olhei a cidade ao redor. Por um longo momento me senti fora do mundo, como se eu não pertencesse a nenhum lugar. Eu tinha tudo. Cresci numa família cheia de amor, mas sem dinheiro. Me tornei adulto e um profissional bem-sucedido, tinha tudo que o dinheiro pudesse comprar,e tinha amor.

Mas da janela do 18° andar, entre tantas reflexões, notei que o vazio que eu sentia era a falta de um alguém para dividir a minha vida, alguém pra por aliança na mão e fazer história. Eu vivia nas lembranças de um amor que por minha culpa não deu certo, respirei e aceitei que nunca mais daria certo. Mas eu já estava cansado desse vazio e desse sentimento de culpa que eu carregava nas costas por nunca mais ter corrido atrás desse antigo amor. Terminei meu cigarro. Liguei meu antigo computador e vi algumas das poucas fotos que esse amor tinha gravado, depois de anos consegui vê-las. A cada imagem eu parava o olho em nossos rostos e me lembrava de tudo que nós tínhamos vividos. Cada idas e vindas, entre cada declaração boba que eu fazia pra te trazer de volta quando brigávamos por causa da escolha do filme que iríamos assistir no sábado a tarde. A cada foto foi se passando um filme. Até que eu cheguei a nossa primeira foto, aquela do dia em que nos conhecemos. Aquela em que estou numa ponta e você na outra, e suas amigas, que eu só fiquei amigo delas pra se aproximar de você, estavam no meio. E no final dessa foto, eu e você seguramos a câmera para olhar como que ficou, e então eu pude sentir o calor da sua mão. Você logo me olhou e deu um sorriso meio que sem graça. Meu coração disparou nesse momento. E então começamos a falar de como saímos feios na foto. Entre várias risadas, fui me deixando levar por sua face, seu olho, sua boca. Até hoje consigo lembrar de cada detalhe do seu corpo, cada marca. Lembrei do nosso início de amizade disfarçada na vontade de nos amarmos, mas ambos já tinham se machucado por amores falsos e não queria mais se iludir. Mas o nosso sentimento foi aflorando de uma maneira inocente e rápida, a ponto de ficar estremecido ao seu lado e com um “fisgado” no estômago em olhar pra você.

Agora estou olhando para nossa primeira foto como “em um rolo” , que foi na nossa viagem de escola para o interior do estado para passarmos uma semana acampando. Você sentou do meu lado, e fomos conversando toda a viagem. Mas eu já não aguentava mais esse sentimento explodindo dentro de mim e com muito medo, enquanto tínhamos parado de conversar, fui descendo minha mão pelo lado do meu banco. Meu coração batia tão forte que acredito que daria pra notar pela camisa. Minha perna dormente, e minhas mãos geladas. Fiquei com medo da sua reação, não sabia se você gostava de mim da mesma maneira que eu gostava de você, eu já sentia amor como nunca senti antes. Então encostei a minha mão gelada na sua e não tive coragem de olhar pra você, olhei pro outro lado na poltrona. Você tirou a mão, e eu pensei “está tudo acabado”. Mas quando olho para você, você está me olhando com aquele sorriso… Não falou nada, segurou na minha mão e seguimos a viagem em silêncio até nosso destino. E lá aconteceu nosso primeiro beijo. Melhor falando, aconteceram nossos beijos. Voltamos do mesmo jeito que fomos, mas diferentes, parecia que já pertencíamos um ao outro. Então isso se repetiu inúmeras vezes, era mágico. Era amor e amizade, amizade forte, eu tinha encontrado um amigo e um amor ao mesmo tempo. Foi então que decidi te pedir em namoro, aquele pedido na caixa de chocolate rsrs. E vivemos bons momentos juntos…

Até que a vida nos separou, eu fui burro e imaturo. Tive medo das mudanças que nós iríamos enfrentar. Você mudaria de estado para estudar medicina, eu ficaria aqui estudando administração. Não iríamos mais nos ver, não conseguiria suportar ficar longe de você. E corri, fui pra longe. Em últimos meses com você aqui eu me afastei pouco a pouco, até você se despedir de mim antes mesmo de partir.

Fiquei vazio desde então.

Depois fui tratar da minha vida profissional, e quis não pensar mais em você. Já que você é, e sempre será minha fraqueza. Não podia pensar, pois não podia cair.

Já fazem 8 anos da sua partida. 8 anos de vazio, solidão, mas muito amor guardado por tí. Olhando para essas fotos, senti o mesmo que quando peguei em sua mão. Por mais que esse vazio tome conta de mim, ele me diz que nós ainda temos muita história pela frente. Soube que você está namorando, mas soube também que ainda ouve os cd’s que te dei e ainda dorme com o urso de pelúcia te dei de presente. Eu ainda vou te esperar, eu ainda amo você da mesma maneira como a primeira vez. E sei que você pensa em mim. Sei que um dia voltará pra mim, e eu estarei aqui te esperando, como sempre estive todo esse tempo.

SidBass
Enviado por SidBass em 10/08/2014
Reeditado em 10/08/2014
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