REFLEXÕES SOBRE UM SONHO ANCESTRAL
Há algo nos recônditos de minha alma
A me forçar os passos por sendas vazias
Sítios desérticos de ares irrespiráveis
Nuvens de puro veneno cingem-me a cabeça
Há pelo menos dez sonhos que já sonhei
Vidas que já vivi em séculos distantes
Mil reinos e cinco mil amantes
Todas virgens cegas de um amor pungente
Presas em castelos distantes
Arrebatadas de cavaleiros andantes
Tirados de cavalos de incomparável alvura
Reinei por centenas de anos
Com quimeras a me perseguir os passos
Brandindo chifres e asas a me tolher espaços
Despertando meus medos mais abissais
Meus fantasmas agora voam em circulos
Formando imensas cirandas macabras
São almas dos que matei com palavras
Faladas e escritas em papiros do Nilo
Esmaguei-os com minha soberba e minha ira
Jamais com um único ato violento da espada
Por traços de pena de pavão e comandos
Abruptos e mesquinhos são os desígnios da vida
Agora vejo-me nu pelas ruas a implorar por perdão
Despojado, desarmado de pena e látego
Sobre minha cabeça repousa a lâmina do gládio
De um gelo sepulcral e antártico
São os caminhos que me restam trilhar
Tortuosos avançam penumbra adentro
Forçando-me a pagar em vida e em sonho
Meus atos de desamor