Fala e desejo

Às vezes me parecem soar falsas as coisas que digo. Não sei, mas, ao dizer, não são mais as mesmas coisas que pensei dizer.

Da intenção de dizer ao aparelho fonador haverá um caminho tortuoso, com variantes e labirintos, capaz de manipular os meus sentimentos? Uma contraordem, censura militante e monocórdia, a ditar previamente o meu pensamento autorizando-me somente a declarar o que não era precisamente o que planejara para o meu discurso? Por isso o signo é arbitrário (a palavra é uma invenção).

O discurso real e límpido, imune aos filtros da matéria, alcança o destinatário quando a voz parte da fonte do pensamento e vibra no receptor como a flecha invisível atinge o alvo idealizado: nada visível, ou audível. Apenas o desejo.