PADRONIZAÇÃO DE COMPORTAMENTO

Se eu faço você torcer para um clube de futebol. Quando eu quero me dirigir a você ou aos outros tantos que torcem para o mesmo clube eu sei o que fazer. Eu tenho o controle sobre todos os acontecimentos que você vê nos gramados e nos bastidores do futebol. Eu tenho no meu grupo os donos de todos os clubes e os administradores de todos os campeonatos, sabia?

Se eu faço você consumir determinados produtos. Se eu faço você gostar de um movimento cultural. Se eu faço você gostar de determinado estilo musical. O comportamento dos ídolos que arrumo para você se parece com o de um louco, eu quero que você o imite.

Se eu faço você ver a telenovela, os filmes ou o reality show. Se eu faço você se comover com uma história e se tornar um ser altruísta. Ou praticar adultério e conservar os valores morais que na história que eu te prendo a atenção você vê.

Quanto mais baixo o nível moral, mais eu posso dominar a sociedade. Por isso é que nas minhas histórias eu prefiro te fazer acreditar que o insólito ou o diferente é normal. E que você deveria experimentá-lo. Eu me aproveito das emoções que você desencadeia quando assiste o que eu te mostro. Se eu fosse você eu não me emocionaria em nenhuma vez. Você não sabe o que pretendo e qualquer um fica frágil e em estado altamente receptivo para receber instruções inconscientes.

Se eu faço você louvar um dos deuses que eu criei. Se eu faço você agarrar-se a uma das religiões que eu criei. Eu quero que você seja anticatolicista porque a Igreja Católica é meu único inimigo. Ela vive a atrapalhar os planos do meu grupo. Embora a criamos, fomos traídos e perdemos o controle sobre ela. Tivemos que mandar inventar o que Lutero inventou para tentar reprimi-la. Mas a Igreja Católica segue firme nos combatendo até os dias de hoje. E, pasme, tem hora que ela está do meu lado. E eu não estou te dizendo isso para tentar minar a moral dela ou denegrir a imagem dela.

Se eu faço você gostar de baladas. Se eu faço você achar que é bom festejar com amigos e familiares. Eu faço você realizar churrascos ou ir para a praia no fim de semana. Eu faço você querer viajar, conhecer outros lugares e outras culturas. Sou eu que ponho essas ideias na sua cabeça. Mas o meu propósito não é o mesmo que você usa para justificar o seu de fazer turismo. Aliás, fui eu que moldei a sua justificativa.

Eu faço você consumir drogas. E sou eu que as vendo para você. Estou por trás daquele cara que te leva pro inferno e por trás do cara explora a sua luta para se manter nele. Eu também estou com o outro, o que tenta te empurrar para fora do vício. Eu faço você obter outros vícios. Você fuma, bebe ou joga porque você permitiu que eu instalasse isso em você.

Se eu faço você idolatrar o sexo. Se eu faço você querer se casar. Eu inventei também a instituição do casamento. Se eu faço você banalizar o sexo. Se eu faço você alterar sua sexualidade. Se eu faço você lutar contra a homofobia em meu nome. Se eu faço você se prostituir.

Se eu faço com que você cometa ofensa racial. Se eu faço com que você seja contra o racismo ou contra o anti-semitismo. Se eu faço você ser contra árabe, palestino ou muçulmano em meu nome. As causas que você adere sou eu que escolho para você. São as minhas causas que você defende. Nem sempre é bom para você defendê-las. Vai de você me dar o feedback de onde eu te encontro e como vai a engenharia que estou fazendo na sua cabeça.

Se eu faço você achar, até, que a neurolinguística funciona. E você passa longos tempos imaginando que um milagre pode acontecer na sua vida tão somente porque você tem força de vontade. Eu sei, tem um segredo nesse campo que eu não posso te contar. De tudo o que você faz, isso é o que te aproxima o mais possível da sua libertação de mim. Por isso eu preciso desviar você do caminho daqueles que tentam te convencer de aprender mais sobre isso. Aqueles que ficam dizendo que você deve ser dono de seus hábitos ou adquirir hábitos vitoriosos e claros. E eu só posso combater esses rebeldes se eu der um pouco do segredo para você. Eu os chamo de Lúcifer. Lúcifer, o que dá a luz, é o que eles são. Por isso é que eu transformei Lúcifer em alguém que você deve temer ou ter repugnância. Já viu como a todo tempo eu repito mensagens contra Lúcifer para você? Repetição é a chave.

Se eu faço você pensar que precisa trabalhar todos os dias. Se eu faço você pensar que pode estabelecer um negócio e ser bem sucedido nele, virar um empreendedor. Ou que você deve querer seguir uma carreira em uma das empresas que eu governo e se realizar nela. Se eu faço você fazer cursos, se matricular em um cursinhos, querer ir para a faculdade. Se eu faço você aprender só o que eu quero que você aprenda e nas condições que eu quero que as informações cheguem até você. Às vezes desinformadas ou incompletas.

Se eu faço você achar o que é possível e teimar em dizer que é impossível o que eu quiser que você jamais pense que é possível. Se eu faço com que você fique perturbado e não consiga aceitar o que diz alguém que tenta revelar o segredo que guardo, que é esse controle que tenho sobre você. Essa gente tenta quebrá-lo. Elas falam de amor. Essa é outra palavra chave. O amor ao próximo não é o que me incomoda. O que me incomoda é o amor próprio. Este leva àquele. E em todos vocês se amando, cooperando um com outro e não comigo, eu perco meu controle sobre vocês.

Então, conheço sua mente. Mais do que você, pois, eu a formo. Sei no que você pensa. Sei do que você gosta. Posso te manipular. Posso fazer você ser melancólico ou que goste de resignação. Posso fazer você ser humilde ou soberbo, ser relapso ou ter ambição. Achar nobre ser pobre e perverso ser rico. Ser pacífico ou violento. Cometer crimes monstruosos. Sair atirando em tudo o que vê ao sair do cinema. Não desejar o sentimento nato, que todo ser humano nasce com ele, de ser livre. Eu não quero você livre.

Sei como fazer para você votar em quem eu quero que você vote. E é assim que você me dá, também, poder sobre aqueles que eu não consigo entrar na mente deles para engenhá-los. É assim que você me permite que eu faça a História. E hoje é diferente de ontem quando tudo começou e eu e a minha turma enfrentávamos problemas para controlar você e o resto do gado. Hoje fazemos tudo isso à distância. Entro na sua casa sem eu devidamente estar nela. A TV, o rádio, os jornais ou a internet, junto com os remédios e os produtos de supermercado que você idolatra, fazem tudo isso para mim. Você cultua todas essas coisas, não é mesmo? Mas não se preocupe, fomos nós que fizemos você cultuar. E somos nós que fazemos com que você continue cultuando. E isso há milênios.