Sobre ir ao supermercado

Dado pensamento me atacou quando fui ao supermercado ontem, plenamente sozinho com meus pensamentos e os sons da rua noturna. Fui e não vi uma alma viva até chegar ao supermercado, era só escuro e estrelas e gatos pulando muros. Havia vida (e luz, muita luz) no supermercado. Lá, porém, peguei dois tomates pouco maduros, três bifes de patinho e uma coca-cola de 600 ml, nada para mim, tudo para o jantar improvisado. Porém, algo me bateu profundamente na mente enquanto esperava na fila do caixa: reduzimos as interações interpessoais a relações mercadológicas, tudo é comércio. Mesmo um relacionamento pode se manter com dinheiro, por puro interesse financeiro. É estranho me sentir apenas um número... Não, pior, apenas um montante de dinheiro. Um montante de dinheiro esperando numa fila para ser reduzido a um pouco menos de dinheiro por coisas essenciais à minha sobrevivência (assim como a de todos). Não sei, sequer, descrever como me senti. É desolador, é assustador, é absurdo. É desumano. Desumanizador. Não consigo descrever o esmagamento aterrador que sofri ao me deparar com o mundo como ele está aí, como ele se põe para nós... Como nós o pusemos para nós mesmos, porque nós o fizemos assim no passado e o mantemos dessa maneira agora. Assoladora sensação de vazio existencial, da insignificância do Eu, do Sou, do Quem, perante a indobrável exigência do Ter, do Possuir, do Valer. Que Valor é esse que não vale nada no vale das emoções? E sorri por um momento, chegara minha vez de trocar papel colorido por comida.

Como não rir? Ditamos nosso próprio sofrimento, cometemos nossa própria morte. Suicida-mo-nos.

O mundo é mesmo hilário...

O mundo é hilário.

O mundo é...

O mundo.