<TRILHOS>Natal branco

Quando é noite e me deparo

com as luzes disformes nas árvores e nas fachadas

vejo quão escuros estão os corações.

Não há nada que me apeteça...

O brilho frio das vitrines contrastam

com o fosco dos meus olhos

e os sorrisos que flutuam esbarram em minha tristeza.

Não gosto de receber o abraço daqueles que,

costumeiramente, não me abraçam,

mesmo que venham vestidos de comoção.

Fico indiferente...

Não quero a vaidade que me faz sentir a dor dos que nada tem,

nem quero a água nos olhos,

apenas pelos instantes exclusivos em que sinto

que a consciência me julga pelo meu egoísmo.

Quantos pratos estão vazios,

quantos são os abandonados e indigentes

com os quais nos deparamos no dia a dia

e fingimos que não os vemos?

Tivemos cinquenta e dois mil quinhentos e sessenta e nove minutos,

Três milhões, cento e cinquenta e quatro mil e cento e quarenta segundos

em trezentos e sessenta e cinco dias

e pouco ou nada fizemos pelo comum...

Todos os anos são assim,

difícil é não se entristecer.

Para não adoecer a minha alma,

recuso-me ao contágio de toda essa hipocrisia

e me recolho na tentativa de alcançar a luz

que, verdadeiramente, me faz refletir o que é o Natal.

Beto Acioli

21/12/2014