Martírio
E hoje eu quis abrir a ferida.
Ferida ridiculamente cicatrizada.
Há dores que nunca param de doer. Ou que talvez não deixemos que cessem.
Hoje eu quis olhar suas fotos.
Ainda bem que as poucas que tínhamos, eu exclui.
Não queria vestígios. Mesmo que eles ainda existam, aqui dentro.
Hoje eu quis ver suas redes sociais e ver que você está feliz sem mim.
Ver que sua vida continua, que você tem planos. Ver que eu não faço falta.
Hoje eu quis me ferir vendo seu sorriso.
Quis sentir falta do teu cheiro, do teu abraço e da tua companhia.
Eu quis me machucar por ainda sentir que parte de mim ficou contigo.
Ouvi a música que tocou numas das nossas noites de amor intenso.
Senti saudade! E hoje, resolvi me ferir.
Porque eu ainda sinto.
Não queria sentir, mas sinto.
Já matei você na minha rotina, mas não matei dentro do meu coração.
Da forma mais idiota e irracional, eu ainda sinto.
Você não merece nada, além do esquecimento.
Mas eu ainda sinto saudade de estar contigo.
Teu sorriso é uma desgraça, mesmo por fotos. Me tortura.
“Saudade” não abrange a falta que sinto de quando fomos um.
Ou do tempo em que eu achei que éramos.
Não importa, mesmo iludida eu me senti feliz.
Por um momento, completa.
Hoje eu me permiti sentir tudo que sinto.
Hoje eu resolvi sofrer, mesmo sendo a maior besteira.
Mas o hoje... também chega ao fim.