Um dia surreal em uma vida real

Como um dia me parece uma vida inteira... Eu me lembro daquele dia, de cada detalhe, e todas as coisas que me aconteceram não caberiam em apenas um dia, tudo o que eu sinto não se transformaria apenas em um dia como aconteceu naquele.

Em um dia conheci a paixão, em um dia, me senti como nunca havia me sentido. Em um dia, olhando nos seus olhos eu descobri o que realmente é o amor, e o que realmente é se importar, o que realmente é a cumplicidade. Em um dia eu me senti como se não houvesse o mundo lá fora, em um momento me esqueci o que havia sido até então, e nos seus braços, olhando em seus olhos, eu senti que a vida era perfeita e que eu não precisaria me preocupar com nada. Eu senti como se um anjo tivesse me tirado do mundo real e me transportado para um momento. Um momento onde tudo é perfeito, e tudo é eterno.

Aqueles dias naquele mundo me levaram a esquecer o que é o mundo, me levaram a esquecer o que eu fui, e o que eu precisaria voltar a ser. Em um dia, Deus me permitiu experimentar o paraíso. O amor sublime, puro, livre de preocupações, livre de preconceitos, livre do tempo.

E no mesmo dia, Deus me tirou do jardim do Éden e me jogou na selva.

Não entendi quando você disse adeus, quando você me olhou daquela forma, decorando meu semblante, eu sabia que teria de me separar de você, mas não pensei que esse tempo fosse chegar, as horas ao seu lado não passam, a hora de me separar de você também não haveria de chegar. Naquela manhã tão quente, minha mente abandonou meu corpo e vagou. Foi um corpo movido pela onda que você beijou, um corpo movido pelo impulso. E quando você partiu, meu corpo não entendeu, e minha mente custou a voltar. Assisti você dando as costas, dizendo que aquele não seria um adeus. Uma despedida apressada, afobada, agitada, você deu as costas, e voltou, e de tal forma fiquei estática. E quando você saiu, fiquei inconscientemente esperando você voltar, e minha mente custou a encontrar meu corpo. Quis gritar, lhe chamar, correr ao seu encontro. Mas meu corpo simplesmente permaneceu estático, tolo, quase pendente.

Aqueles dias naquele mundo surreal me levaram a esquecer como minha vida era levada, me esquecer do mundo, e de tal forma aquele ambiente era parte de mim, que não pensei que teria de me separar dele. Uma vida inteira aconteceu em uma semana, uma vida mais importante do que a que havia sido levada até então. Uma vida maravilhosa, momentos maravilhosos, sublimes, de tal forma me integrei naquele espaço que parecia improvável amputá-lo, mesmo sabendo que iria em breve.

Você me deixou, e eu vaguei pelos corredores, observando, procurando minha mente, lembrando em cada espaço tudo o que tinha acontecido, decorando os corredores, as escadas, os elevadores, o sofá. Custava a entender, e não entendi até o momento em que pus meus pés fora daquele mundo. Naquele ônibus, observando o paraíso se distanciar, meu primeiro impulso foi pular pela janela, e a verdade num sobressalto me atingiu, e quando o monstro sumiu entre os prédios, lágrimas transbordaram, e o desespero tomou conta de mim, e eu não acho que alguém algum dia tenha sentido mais saudade do que eu naquele momento senti de você, mesmo tendo lhe deixado há menos de uma hora.

As lágrimas não me deixaram, durante três longos dias elas foram minhas companheiras constantes, e ainda hoje quando me sinto sozinha são elas que me fazem companhia. Hoje, quando não ouço de você, são elas que vêm me dizer, elas que vêm me lembrar do desespero que passo longe de você.

Saudades não podem ser descritas. Agora bem que o tempo poderia passar mais rápido....