PELA MADRUGADA...

Cai a noite…

Sobre as nossas cabeças paira uma névoa

Semelhante a um véu que nos persegue de forma cândida

O chão brilha como que envernizado para grandes ocasiões

Não há bailes, nem concertos, nem seminários agendados

Há uma porta aberta ao silêncio da madrugada

Onde os teus passos marcam a cadência de cada metro percorrido

Vagueio por ruas e ruelas mal iluminadas

Cobertas de segredos das vidas que repousam em leitos de conforto

Ouço alguns ruídos próprios da nudez das horas

O mar que rebenta nas margens o seu passeio constante

O poema imperceptível da coruja em direcção à lua

Os cães ou os gatos que procuram na noite os despojos do dia

A madrugada das insónias e dos arrependimentos

Da lista de pensamentos que o bulício não nos deixou ordenar

Caminho lentamente

Absorvo cada delícia de um tempo em que o tempo não conta

Protejo a face da brisa que corta como uma lâmina

Sinto uma calma que me evidencia dupla personalidade

Aquela parte onde não temos de responder aos energúmenos

De uma sociedade rachada como lenha que nos aquece

Gosto da madrugada

Gosto de caminhar pela madrugada

Onde consigo ser o corpo e a mente que me trouxe ao Mundo.

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 21/01/2015
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