MINUTOS DE TERROR

Agora, posso fechar meus olhos e agradecer a Deus e Nossa Senhora, por estarmos vivos e sem nenhuma marca de agressão EXTERNA.

Mas, só EXTERNA. Porque, INTERNAMENTE os danos, sabe-se lá, quando vão sarar, e se vão. É uma visão que depois de horas e dias, ainda fica passando pelas nossas cabeças, nos deixando até paranoicos: com pessoas, gestos e lugares.

Nos sentimos IMPOTENTES diante de tanta violência, de tanta desgraça. São fatos, que não esquecemos, mas, o mais importante, não podemos aceitar e achar que é uma coisa normal, porque não é. Isso também precisa mudar, para que a sociedade possa continuar a viver, pelo menos VIVER.

E foi naquela manhã, do dia 04 de fevereiro, que estávamos nós lá, cumprindo nossa missão, trabalhando, desde muito cedo, em nossas obrigações, quando já quase meio-dia, numa avenida principal, lotada de pessoas, um caminhão resolve fazer uma manobra, impedindo o trânsito dos dois lados, e do nada, do meio das barracas de favela que se alojam na beira da avenida, pulam aqueles quatro marginais, dois provavelmente maiores e os outros dois menores.

Eles vêm para cima do carro de uma forma brutal, armados, batendo nos vidros, ameaçando atirar. Jovens, que tem prazer nesta ação, para eles é um jogo, é divertido, eles adoram aquilo, aquela agressão, o terror que causam nas pessoas, são seres criados pela nossa sociedade, que dificilmente terão recuperação. E eles não querem se recuperar, eles gostam do que fazem, querem a vida fácil de tomar as coisas dos outros, em lugar de ter que batalhar por elas. Querem dinheiro, coisas de valor para comprarem o tênis da moda, o celular top, roupas bonitas, grana para sair com a mina, comprarem droga para viajar em um mundo colorido. Eles não têm e não querem, nenhuma perspectiva de vida, não pensam no futuro, só querem a adrenalina, a maldade do momento presente.

E de repente, batem com força nos vidros, ameaçam atirar, e eles alvejam mesmo, e é para matar, porque não tem nada a perderem. Para eles não existe lei, nem pena, e muito menos arrependimento. O prazer de atacar inocentes, roubar o pão do dia a dia dos trabalhadores é o que os mantém vivos, é o que lhes dar energia para continuarem agindo, sabendo que mesmo que sejam pegos em alguma hora, logo voltaram as ruas para mais empreitadas.

E assim, eles te fazem abrir o carro, te atacam, te chamam de vagabundo, filho da mãe, sei lá mais o que. Querem que você dê a eles tudo o que tem, dinheiro, joias, celulares, tudo o que puderem trocar por gramas de droga. O revolver na cabeça é constante, as ameaças não cessam, e eles revistam tudo, tiram tudo o que conseguem de dentro do teu automóvel, de você. Metem as mãos nos seus bolsos, puxam o teu cordão do pescoço, se impacientam se você demora a tirar a aliança. São de uma violência sem precedentes, inimagináveis.

Tomam de você, coisas que na verdade para eles, não tem valor nenhum, papéis do seu trabalho, que só servem para você mesmo. Pegam seus documentos, os documentos do carro, coisas mil, que de nada vai lhes servir, mas, é tudo feito numa questão de minutos, às vistas de dezenas de pessoas que passam na rua, sem nenhuma ação, vendo uma cena de crueldade, sem nada poderem fazer, porque, ninguém quer arriscar sua vida pela de outra pessoa.

Finalmente, a suposição de uma patrulha se aproximando, faz eles debandarem em fuga, e se embrenharem no meio dos becos da favela as margens da avenida.

E só assim, conseguimos escapar de lá, com o corpo trêmulo, que ainda não consegue se desvencilhar de tanta tensão, tanto terror. E finalmente, conseguimos escapar pelo menos com nossas vidas, e ter mais uma chance de recomeçar.

Pessoas honestas, que se esforçam, que trabalham, que lutam dia a dia para conseguir o seu pão, para sustentar a família, pagar os impostos, pelejar por uma vida melhor. E de repente, vemos que estamos abandonados, que voltamos aos tempos passados aonde os bandidos predominavam, causavam o terror, se achavam donos da situação.

E só contamos realmente com a graça de Deus para continuarmos vivos. ISSO, É INCONCEBÍVEL. Não vivemos na era dos gladiadores, nem dos vikings e nem no velho oeste. Vivemos em um mundo, em que depois de tantas conquistas e progressos, deveria pelo menos, nos dar uma vida mais digna, mais tranquila. Saber que podemos sair de casa, despreocupados, mas, com a chance de retornar, cansados e satisfeitos, ao nosso lar, depois de um dia de trabalho.

ESSA REALIDADE, NÃO PODE CONTINUAR!!!!

Noélia Alves Nobre
Enviado por Noélia Alves Nobre em 06/02/2015
Código do texto: T5127537
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