A violência

Pensar em segurança hoje é uma questão de segurança. Parece que o ser humano está vulnerável a toda a sorte de violência.

Quem já não foi assaltado? Eu já fui e posso dizer que não é uma situação agradável. Quem já viveu na pele esse tipo de situação sabe o que estou falando. Parece que o nosso mundo desabou.

Quando sofremos algum tipo de violência fica claro para nós que a sociedade está com elementos “estragados” eu diria.

Somos mutilados quando sobremos algum tipo de violência. Não só mutilação material( a subtração do bem que temos e que é levado por alguém. Na gíria dos marginas o “perdeu”.), mas também a mutilação física( algum dano ao nosso corpo) e a mutilação psíquica, isto é, traumas que para muitos vão durar a vida inteira, ainda que percebidos ou impercebidos, mas influenciando a vida das pessoas. Para aqueles que não sentem traumas, a vida continua normal como antes.

É uma questão de perda. Quando você, por exemplo, sofre algum tipo de dano, seja ele com ou sem dolo, você se sente lesado, subtraído, parece que você perdeu algo que já fazia parte da sua história. Então, essa pessoa que o magoou quando se aproxima novamente de você e lhe pede perdão, você fica com dificuldade para perdoá-la. No entender da mente humana é quase impossível para o ser humano perdoar àquele que lhe fez um mal. Perdão como a própria palavra em seu sentido strito, em seu sentido natural, é uma perda grande. Essa perda só é sentida por quem tem que ceder e conceder o perdão. Para aquele que praticou o ato que afetou o outro parece que o perdão é uma vitória a mais. Entretanto, para aquele que sofreu o dano perdoar é sair no prejuízo.

Estar presente nessa terra de “Malboro” é estar vulnerável a todos os tipos de violência

Vulnerabilidade é não estarmos protegidos contra algo que pode até tirar a nossa vida.

A segurança, ainda que pequena, é condição sine qua non para que todos vivam em paz socialmente. No entanto, todos são vulneráveis ante os males deste mundo.

Existem aqueles que poderiam até se resguardar da insegurança que lhe era conhecida anteriormente. Não se trata de ser conhecedor somente da violência que os espera, mas conhecedor também da solução para não sofrer tal violência.

Em tempos passados, sabia-se que muitos eram perseguidos por suas idéias, por sua religião e etc. Havia no tempo do imperador Diocleciano, um cidadão muito hospitaleiro. O nome dele era Focas. Por se tratar de uma pessoa de bem que cedia a sua casa para os estrangeiros passarem um período, Focas era famoso em toda a cidade em que morava. Um dia, por ordem do imperador Diocleciano, todos os cristão deveriam ser executados por terem crenças que não estavam de acordo com a vontade do imperador. Na imensa lista dos que seriam executados estava o nome de Focas em primeiro lugar. Assim, o imperador Diocleciano mandou executar a sentença. Enviou uma guarda para executar Foca. Quando a guarda chegou à casa de Focas não sabia que ele era dono daquela “pensão”, nem que era o Focas procurado. Perguntou a guarda a Focas se ele conhecia o Focas, pois este mesmo deveria ser executado por possuir idéias diferentes da do imperador. Focas sabia que ia sofrer um dano mortal, contudo não hesitou por conta do medo e da paz que sentia em seu coração por possuir uma crença no sobrenatual, o incriado, a alma do universo, o supremo arquiteto do universo. Disse para a guarda passar a noite em sua casa que no dia seguinte apresentaria o tal de Focas a ela. Antes, porém, serviu o jantar para todos e os fez dormir. Enquanto aquela guarda dormia, Focas cavava a sua cova no fundo do quintal. No dia seguinte, no café da manhã, Focas foi perguntado pela guarda onde é que morava o tal de Focas. Focas corajosamente respondeu que a guarda estava diante dele, o próprio Focas em pessoa. Então a guarda disse que não podia cumprir a sentença de morte de forma alguma por se tratar de uma pessoa bondosa, hospitaleira e que não fazia mal a ninguém. Focas disse que estava em paz com Deus e que a sentença deveria ser cumprida ainda que isso fizesse parar a sua trajetória humana. A sentença foi cumprida e Focas morreu.

Nessa história verídica tiramos uma grande lição, a saber: Focas sabia que seria morto, mas não escapou, não fugiu. Ele confiava em Deus. Pelo menos isso os seres humanos devem fazer: confiar em Deus.

A vulnerabilidade por que passamos é tão grande que já não confiamos em quem por direito tem que nos proteger, zelar pela nossa segurança que são as forças constituídas para isso. Mas Deus é aquele que parece nos dar segurança diariamente.

Portanto, parece que estamos em uma roleta russa em que a qualquer momento vamos ser atingidos por algum mal causado por outrem.

É como na Segunda Grande Guerra Mundial em que a probabilidade de ser atingido por uma bomba era pequena e mesmo assim muitos tinham a infelicidade de verem sobre si o despencar de uma bomba.

Violência é uma questão de costume. Quem não se acostumar e aceitar o acaso de ser violentado não poderá mais viver nos grandes centros, nem nos grandes desertos porque até lá habita a violência. A não ser que seja protegido por acaso como advoga a música que diz: " O acaso vai me proteger". Parece que nossa segurança é o acaso.

Evitar a violência é uma tarefa inalcançável para o ser humano. Nem um demiurgo conseguiria acabar com ela. Moreira Franco disse que acabaria com a violência no Rio de Janeiro em seis meses, mas não conseguiu porque não se acaba com a violência. Vive-se e convive-se com ela a toda hora, a toda a prova. O maior problema é que convivemos e vivemos com ela, mas não sabemos quando e em que hora ela vai nos achar. É um pique esconde onde nós estamos tentando nos esconder da violência que está com o pique. Ela, contuto, fica nos procurando violentamente para ver se consegue nos achar. Caso sejamos achados por ela, ai então é só rezar mesmo e esperar para ver se ficamos vivos para tentarmos nos esconder novamente dela, ainda que alquebrados pelo primeiro ataque sofrido.

Queira Deus que nossas autoridades, nossas leis, nossa gente evoluam e que a nossa sociedade contribua para a formação de um ser integro e que tenha as mesmas oportunidades nesta mesma sociedade que os discrimina continuamente.

As muitas crianças que hoje estudam para serem alguém na vida, principalmente aqueles oriundos da escola pública, serão aqueles que trarão todo o tipo de problema para a sociedade futuramente. Talvez aquele que o assaltou hoje foi aquele que você deu bala na infância.

Chega-se, desse modo, ao fim desta reflexão afirmando que viver e conviver com a violência é algo que deve ser ensinado e praticado porque não haverá fim para ela e se nós não tivermos uma boa relação com ela será o fim para nós.

Filósofo místico
Enviado por Filósofo místico em 04/06/2007
Reeditado em 06/06/2007
Código do texto: T513969