A lição dos ramos

Na representação das árvores na floresta, aquele ramo sou eu, aquele outro és tu. Vês como o Vento nos balança? Não temos força própria, nossa força vem do Vento. E o Vento demora a mudar de direção. Sopra, sopra, e nós nos vergamos sempre do mesmo lado, até que, por nova força, todos os ramos e galhos tomem outra direção.

Um dia talvez o Raio ou o Ceifador tolha-nos aos dois ou a um só de nós, mas dia virá em que não mais existiremos, e a vida na floresta continuará, pois só somos ramos; outros galhos nascerão e cumprirão também seus tempos. Por mais que ramos se resvalem, só se tocam; é o Grande e Poderoso Vento que faz tudo mover-se.

Assim somos nós na vida, mas com mais, muito mais autonomia que os galhos e ramos da floresta. Aqui, se queremos, derrubamo-nos uns aos outros ou nos impelimos para o bem ou para o mal mutuamente.

Na vida temos a liberdade de transplantarmo-nos para continuarmos ou mudarmos nossas missões. Podemos escolher nossas missões, mas é sempre bom sabermos a que viemos. São-nos dados tempo de alegria e tempo de tristeza, de reflexão ou de ação, de sonhar e de ser, de plantar e de colher, e não nos enganemos, colheremos o que plantarmos.

Temos dentro de nós o bem e o mal; o que alimentarmos, já o sabemos, crescerá dentro de nós e nos transbordará. E o filósofo, santo ou poeta definiu-nos como feitos de ouro com os pés de barro. Se confiarmos só na nossa natureza dourada, talvez sejamos altivos, soberbos, faremos tanto, e um dia tombaremos com os pés desmanchados. Se só olharmos para os nossos pés de barro, talvez iremos a lugar nenhum, fixar-nos-emos nesta nossa condição e nada faremos.

Melhor é então que vejamos que somos fortes, mas frágeis; podemos e devemos agir, dando ao Mestre-Oleiro o lugar que deve ocupar em nossas vidas. Confiar que Ele nos impulsiona na direção certa na hora de agir e é Ele mesmo que nos orienta ou nos dá condição de saber quando é hora de refletir, de recuar, de bater em retirada, de orar, e que é sempre tempo de ser humilde. Melhor não olharmos demais ( para que a soberba não nos tome conta) para as nossas partes douradas, nem para os pés de barro( para que não pensemos só no atoleiro). Melhor é intuir essas nossas duas naturezas e saber que somos seres únicos, especiais, mas criaturas.

Melhor é não termos a presunção de que definitivamente aprendemos o jeito certo de ser feliz e de que superamos, vencemos todas as barreiras. Melhor é, pois, sermos cônscios da nossa natureza e sermos sábios e humildes, tudo fazermos como se tudo de nós dependesse e esperarmos, descansados, na amizade e no amor dAquele que tudo governa e tudo provê e que Ele, sim, faz e fará o impossível.

Neusa Storti Guerra Jacintho
Enviado por Neusa Storti Guerra Jacintho em 02/03/2015
Código do texto: T5155426
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