Delírio de um Alienado

“O trabalho limitou-me a coisa, só sirvo para manipular uma fração que não encontro no produto final, então me limito à situação instável de ser substituível.

“Sei que sou o que tenho, compro o que me preenche este vazio –bate no peito com força- e mesmo sem ver um real sentido nisto sou aceito, não me reconheço mas sou visto. Casado chego em casa desejando um lar, vejo meus amigos de cela, que tem meus genes e uma aliança de ouro, forço as vistas mas não vejo uma família. A solidão que me corrói não cessa, e vou levando esta dor dilacerante dia a dia, rezando para que a ciência descubra um remedio que me cure isto.

“Não posso me ver, pois estou disperso, são tantas cores e luzes que não me vejo, só busco do lado de fora no caos, respostas para o caos que vive em mim, mas que ignoro... Estou vazio? Digo que estou cheio de um nada denso que me sufoca, mas cego eu vejo o que me cerca, quando meus olhos se abrirem poderei ver o que há dentro e fora, ou talvez descubra que não sou um ponto de vista, ou que ser apenas consumidor e mão de obra para o mercado não seja minha predestinação, talvez eu perceba finalmente que o som que parece tão alto nada mais é que o silêncio de uma alma abandonada que de tão sem voz grita! Ah! Se eu pudesse abrir um livro e não me ver em cada personagem lamentando o que eles fazem e que eu não posso fazer... Quem dera descobrir a magia das musicas que fazem minha alma voar pelo paraíso...

“Quando eu acordar de manhã, vou levantar e ir, como um adestrado animal, em direção à dolorosa jornada diária, sonharei com o final de semana, sem pensar que cada segundo é um a menos, e que viver de final de semana não é viver! Como uma marionete eu caminho em direção ao baú dos rejeitados, logo, não serei nem historia, pois sou apenas um número, não tenho identidade, quando eu adoeço sou apenas paciente, ou a doença, quando andando só um na multidão, quando voto apenas um eleitor, tenho papeis num mundo, represento coisas e esqueço quem está atrás da personagem... esqueço ou me ignoram até que não seja importante que eu seja eu ou que eu me lembre de mim... Ah, se o mundo acabar amanhã fico feliz, mas o mais provável é que eu acabe e o mundo permaneça, pois quem finda é sempre o que tem vida... Vida... Ah o que é vida? É caminhar por ilusões até que a beira do fim descubra que não construímos nada além de castelos de areia?

(...continua)

T Sophie
Enviado por T Sophie em 06/06/2007
Reeditado em 09/06/2007
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