Love is my Life

Tudo na vida tem um por que, seja ele físico, sentimental ou psicológico. É incrível como há pessoas que te salvam o dia com apenas um sorriso, um olhar e um abraço, e nem mesmo a morte pode tirá-las de você. Como se fosse hoje, lembro-me do seu sorriso, lembro-me do seu afago em meus cachos rebeldes e volumosos e em meu queixo que vivia para baixo, demonstrando sempre minha solidão. Solidão essa que você simplesmente dispersava com sua presença, e hoje, ao mesmo tempo em que amplia, ainda a dispersa, com sua lembrança. “O amor de minha vida”, este foi o título que lhe concedi e que sempre carregarás dentro de mim. Quando penso em amor, encontro-o, em sua forma mais pura e sincera, em nossas lembranças juntos, e logo uma sucessão de imagens, sons, sensações e gostos passam diante dos meus olhos como um filme do que vivemos: Quando trazia meu amado queijinho quadrado e dizia que o comeu no caminho, me pegava no colo e eu procurava desesperadamente no bolso de sua camisa social, onde sempre o escondia e eu o encontrava, você me sorria, retirava a embalagem, pois minhas mãozinhas afobadas eram incapazes de tal, me mantinha em seu colo, mas me elevava à cima de sua cabeça, eu encaixava meu pescoço em sua careca, enquanto assoprava minha barriga por cima da roupa, me fazendo cócegas, e eu brincava com o pouco cabelo que lhe restara na parte frontal superior de sua cabeça; Às tardes que dormimos juntos, jogados sobre o tapete da sala e 2 cobertores para mais confortavelmente lhe acolher, já que minha cama era seu corpo. Após deitar-se, chamava-me de “Minha pequena criança”, e lá estava eu na porta da sala toda saltitante, mas cheia de sono. Logo me acomodava sobre sua grande barriga nua e assim permanecia, com a cabeça em seu peito e o rosto em seu pescoço, até adormecer. O movimento rítmico do seu diafragma sob meu corpo me entorpecia, e assim eu adormecia. Lembro-me também até mesmo dos mínimos detalhes, como quando eu acordava, mas tinha pena de sair daquele aconchego que tanto me era precioso, e, durante seu pesado sono, virava seu corpo, pondo-me deitada no chão, ajeitando-se de frente para mim e me aconchegando a cabeça em seu braço enquanto me envolvia com o outro. Todas as tardes, lá estávamos nós e, entre o som de sua respiração em meu pequeno ombro, o ritmo constante do seu diafragma movimentando meu pequeno corpo e o ventilador esvoaçando meus grandes cachos, o sono me envolvia junto a seus braços.

Mas nem tudo foi maravilhoso assim, pois ainda lembro-me da única vez em que o vi chorar. Naquele dia, em minha total ingenuidade, pensei que o senhor não era um anjo, como eu realmente achava desde sempre, e sim um humano, como eu, que chorava. Quando vi suas lágrimas teimando em cair, mesmo com minha presença, me desesperei, pulei em seu colo e chorei como se não houvesse amanhã. Passados muitos minutos, perguntaste-me o porquê de meu pranto, e respondi que, sem seu sorriso, o meu não tinha sentido, e se ele chorava, era porque não poderia suportar, e eu, chorando ao seu lado, estaria dividindo o peso, assim ele não sofreria tanto. Lembro-me de como se comoveu e me elogiou de diversos modos, e naquele momento, eu me orgulhei por ser capaz de fazê-lo sorrir, me orgulhei de mim mesmo, mesmo sem saber o real significado desta palavra, na época. Nunca mais esta cena se repetiu, mas minha admiração por ele apenas crescia, dia após dia, sorriso após sorriso, palavra após palavra, e fui me vendo cada vez mais parecida com ele em certos tópicos, principalmente quando via alguém chorando e animava, sempre com sucesso, uma vez que sempre me foi fácil, e para ele também. Aprendi como se deve fazer para saber o que dizer no momento certo, usando as palavras certas, quando o choro deveria ser incentivado ou cortado, e aprendi até mesmo como usar um pequeno martelo que me deste de presente, que ficava guardado em sua oficina, um paraíso aos meus pequenos e inocentes olhinhos. Como que para lhe encontrar, eu trilho meu caminho com todos os ensinamentos que me dera, muitas coisas que me disse e que entendi depois de sua partida, ou que ainda não entendi e pretendo continuar procurando a resposta, como a vez em que dissestes que o amor era mais do que fazer sorrir, era fazer uma felicidade tenra e sincera, ainda busco um meio disso, e antes de subir ao seu encontro, porei todos os seus ensinamentos em ação, deixarei-o orgulhoso de sua eterna pequena criança. Seguirei seus passos, mas em meu próprio caminho, como escrevera em seu velho diário que recebi em sua missa de 7 dias, pois sei que, seja onde estiveres, está cuidando de mim com todo amor, ternura e carinho de sempre. Eu te amo, meu vovozinho.