Mais um copo, por favor

A minha felicidade tem durado o mesmo período de tempo que a cerveja. Cerveja ou vodka, depende.

Mas é tão superficial! Quem me conhece sabe identificar meu pensar profundo sem solução, um estado triste da alma em que a boca mente um sorriso, mas os olhos não mentem a dor.

Ninguém entende mais minha delicadeza, meus gestos simples, minhas alegrias insólitas, meus planos infinitos. Ninguém percebe mais que sou um ser único imerso no coletivo. Me tomam pelo coletivo anulando o induvidual. Já não passo de uma representação mal-feita daquilo que poderia ser bonito e interessante, mas que por sua vez é visto como repetido, normal, banal.

Meus suspiros são apenas suspiros e não mais significam nada.

Meus olhos, que só mostram dor, são expressivamente deturpados e até tortos, quem sabe!

Aquilo tudo que eu estava pronta para oferecer ainda está estendido, mas está caindo no chão sem ninguém pegar... desperdiçando anos importantes estou eu. Caindo no chão sem ninguém pegar.

Não me dou conta mas já viro o terceiro copo e amoleço novamente.

Quem não tem coração nessa história? De que vale tê-lo?

Dele é que saí a felicidade? Não parece, não é isso que procuro, então. Quero que seja de repente, como um sopro leve de um vento no rosto, quero que me vejam e me enxergem, me escutem e ouçam. Quero o prazer incondicional que os amantes têm nos seus primeiros dias de paixão, mas isso morreu tem um certo tempo, só que esqueci de enterrar, por isso essa sensação atormenta, fica vagando e querendo ser lembrada e revivida. Ela me inquieta, faz com que eu acredite no amor. Faz com que eu peça mais um copo.

Eu suplico à paixão que me deixe, estou muito afim de curtir minhas desiluções, mas ela fica em formato de fantasma, me dizendo que um dia já existiu. Que um dia já foi bela. Que um dia me deixou feliz. Eu replico dizendo que ela só existiu para depois medir com que rapidez vai embora. Ela diz que eu que a deixei ir. Eu digo que não, impossível, saiu porque assim quis. Ela diz que além de triste, agora não tenho mais memória, até a paixão caçoa de mim.

Mais um copo, por favor.

Laís Mussarra
Enviado por Laís Mussarra em 08/06/2007
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