Morrer na praia

Atravesso os dias feito uma transeunte inocente; um rosto vazio, sem nome ou endereço. Não tenho como fugir dos seres humanos – esse planeta está repleto deles! Então apenas os suporto. Convivo com as pessoas: eu sorrio, eu converso, eu aceno, e elas são broncas e egocentradas demais para perceber que não estou ali.

Esse meu piloto automático vem dando defeito ultimamente. Inadmissível. Ele não podia fazer isso comigo. Desistir não é uma opção; é sinônimo de fraqueza, padecimento. Ser forte a todo e cada amanhecer é quase que uma imposição, um atributo essencial para sobreviver no mundo.

E esse é o nosso mundo. Todos fazendo nada mais do que existir, até falecer no encalço de uma ilusão; nadando num mar de mentiras pra morrer na praia de uma utopia.

Mas e se estou fraca? Se estou mesmo padecendo? A arte da desistência nunca foi ensinada, e (fingir) ser forte não está mais funcionando pra mim. E então? Talvez largar mão é que seja a sobrevivência para pessoas como eu, para as quais todo e cada amanhecer é um martírio, gente que sente a fraqueza e o padecimento mil vezes mais.

A única diferença entre os desistentes e os persistentes é que os primeiros morrem sem lutar por nada, e os segundos lutam por tudo e morrem mesmo assim. Onde me encaixo? Sou dos que fraquejam e padecem de vez ou desses que continuam existindo, esperando algo da vida? Qualquer coisa?

12/03/2014

Thainá Mocelin
Enviado por Thainá Mocelin em 04/04/2015
Reeditado em 06/04/2015
Código do texto: T5194731
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