A megera que você ama

Chega um momento em que a beleza deixa de impressionar.

Perde espaço para o mal humor e para as reclamações.

Padece diante do tédio e ganha espaço no azedume do dia a dia.

A beleza, aquela antes tida como riqueza e raridade, passa a ser então um incômodo, uma discrepância entre o corpo que a carrega e os valores que já não estão nele.

Este é o momento da tristeza.

O rosto, ainda impressiona, mas já não convence com suas caras, bocas e olhares de amargura e rancor.

A beleza, antes exaltada pela elegância, a candura, a gentileza e a educação, passa a ser um espectro na ausência destes outros valores.

Uma criatura moribunda a frequentar espelhos e vitrines em busca da perdida aprovação.

Não há máscara que já convença, nem maquiagem psicológica que resista.

Uma vez desvelada pela sua própria arrogância, deixa-se ser vista como realmente é e já não convence o mais miserável dos mortais.

E mesmo que assim não fosse.

Mesmo que quem a possui, entrasse pelos anos em dias de uma vida serena, ainda sim, a beleza acabaria.

Só que neste caso, deixaria um rastro de sorrisos iluminados e atos bons de coração.

Portanto, trágica é a existência daquele que se apega unicamente a esta amante tão volúvel.

Ela o trairá, acredite.

E quando isto acontecer, ainda caçoará de você nas noites escuras.

E um dia, para satisfazer a vaidade que anda de braços dados com esta megera, você tentará absolutamente tudo para se convencer que ainda é atraente.

E nos delírios mais profundos acreditará que ainda pode impressionar não importa quem ou como.

O que importa é saber que seus olhos ainda arrancam suspiros e outros olhares mesmo que eles sejam tão caquéticos ou piores que os seus.

Vaidade, eis uma das mortalhas mais terríveis daqueles que querem ser gente.

Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 17/04/2015
Reeditado em 17/04/2015
Código do texto: T5210558
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