O Poeta que Nasceu para Morte

Sento para escrever, preparo o papel, seguro a caneta e lá vai.

Mais um começo, mais uma faísca se reinventando a cada traço. Fazendo surgir realidades quase sempre irreais, servindo de escape para a vida.

Da mente para o papel.

Sem filtros ou pudores.

Sem medos ou timidez.

A menina não precisa se conter. A mulher pode ser inocente outra vez.

Arte que ora imita a vida, ora se faz de louca.

Não tenho preferências, não tenho regras ou parâmetros. Tudo que tenho são papéis e canetas que, por vezes, desconfio terem vida própria.

Uma invejável vida.

Queria eu poder morrer só quando acabasse a tinta.

Queria eu poder morrer só quando fosse totalmente preenchida, com espaço apenas para o ponto final

Mas não, morremos de morte morrida, porque tinha que ser, é o que dizem

Sem chorinho, quando o Anjo chega é melhor segurar logo na sua mão.

Estamos de novo começando.

Os poetas conhecem a morte como ninguém. A cada final morre algo dentro deles.

Eles entendem que é preciso acabar para recomeçar e isso não os chateia.

Quando morre um poeta uma nova poesia começa.

Os poetas se deixam carregar no colo pelo Anjo, ansiosos para pingar novamente a tinta no papel, ansiosos pela nova estória.

E o Anjo assim, se faz feliz também por -no meio de tanta dor- poder contemplar o dom da criação.