Garota Decidida

Ela põe um salto alto e se maquia. Esmalte vermelho e lápis de olho. Não tem como essa mulher passar desapercebida em qualquer lugar que seja. E, não, não é tão culpa dela assim. Ela é bonita, atraente e os amigos cansam de dizer que o cara que tiver o privilégio de estar ao seu lado será um sortudo. Mas, então, sabe esse posto de sortudo? Já foi ocupado algumas vezes. E ninguém ficou no cargo.

Agora, seu coração está fechado.

Ela ri quando ouve aquela música do Chico que diz “chego a mudar de calçada/ quando aparece uma flor/ e dou risada do grande amor/ Mentira”. Fica pensando que é exatamente isso. Tudo uma mentira. A mídia vende nas novelas, o povo consome nos filmes, enxerga nos comerciais de margarina, projeta na publicidade das revistas. Chega a dar sono.

O problema dela não foi ter sofrido. Qualquer um na vida está sujeito a passar por decepções. Até porque, algumas delas valem a pena exatamente por deixarem uma lição. Haverá, inclusive, pessoas que merecerão perdão e uma segunda chance. Terceiras, quartas e quintas chances já são algo demais.

A grande merda é que muitos tentaram, alguns chegaram perto, mas os que verdadeiramente tiveram acesso ao seu Mundo causaram apenas destruição. O salto alto não é um tipo de vingança. Ela gosta. O vestido curto não é provocação. É uma roupa que cai bem nas suas curvas. Foi-se o tempo em que ela ligava para as opiniões masculinas sobre ser vulgar ou algo assim. Eles enxergam um pedaço de carne, não uma pessoa, repete.

Ela leu outro dia num texto do Coiro algo que encaixou como uma luva: não adianta ter pressa para achar alguém por pura pressão da sociedade. Aliás, não existe esse tão idealizado alguém. Imagina só se vai aparecer alguém que entenda suas manias, aceite seus defeitos e se adeque aos seus horários malucos de trabalho.

O pior é que as amigas vivem dizendo que sim.

A encarada no espelho, mortal quando quer ou precisa, não é um ensaio para o que vai fazer hoje à noite. Ela é só uma mulher cansada de contos de fada e/ou jogos de sedução. É só mais uma mulher que sofreu na mão de quem não soube lhe dar o amor que julgou merecer. Hoje ela sabe o que quer. Quer exatamente isso: o hoje.

E, por incrível que pareça, é exatamente em dias assim, em que vivemos sem pretensão alguma, que as melhores coisas podem acontecer.

Manuela Papale
Enviado por Manuela Papale em 29/04/2015
Reeditado em 29/04/2015
Código do texto: T5225004
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