"COMO NOS TERÍAMOS AMADO"...

Trecho do conto “As Pérolas”, Lygia Fagundes Telles
 


 
[A varanda, floreios de Chopin se diluindo no silêncio, vago perfume de folhagem, vago luar, tudo vago. Nítidos, só os dois, tão nítidos. Tão exatos. A conversa fragmentada, mariposa, sem alvo deixando aqui e ali o pólen de prata das asas, “e aquele jantar, hein, Lavínia?” Ah, aquele jantar. “Foi há mais de dez anos, não foi?” Ela demoraria para responder. “No final, você lembra?, recitei Geraldy. Eu estava meio bêbado, mas disse o poema inteiro, não encontrei nada melhor para te saudar, lembra?” Ela ficaria séria. E um tanto perturbada, levaria a mão ao colar de pérolas, gesto tão seu quanto não sabia o que dizer: tomava entre os dedos a conta maior do fio e ficava a rodá-la devagar. Sim, como não? Lembrava-se perfeitamente, só que o verso adquiria agora um novo sentido, não, não era mais o cumprimento galante para arreliar a noiva. Era a confissão profunda, grave: “Se eu te amasse, se tu me amasses, como nós nos amaríamos!”]


 
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COMO NOS TERÍAMOS AMADO SE... E TUDO NESTE "SE" PARA SEMPRE NO REINO DOS INTERDITOS, PARA SEMPRE NO REINO DOS INTERDITADOS...
                                                                                     Zuleika dos Reis