A necessidade da noite

Minha necessidade tem sido apenas dormir cedo.

À noite, quando sinto fome, embora tenha variadas opções de comida em casa, alimento-me da concentração de manter-me tranquila, sem obedecer ao desejo. É um bom exercício para que a saciedade inerente a todos, seja percebida e alcance então, certa liberdade de preocupação, já que o universo nos nutre de toda e qualquer necessidade e nos mantém a todo instante, acesos, emanando Luz.

A lua parece um sorriso lá fora. Branco, fino, acolhedor. Daqui me recolho no edredom e entrego toda a atividade de pensamento para repousar ao lado, como se não pertencesse ao meu corpo. Assim posso ser absolutamente o que sou, na feliz penumbra do despejo, sem nenhuma denominação ou adjetivo que conceitue ou defina, porque dispensa qualquer possibilidade de interação.

Penso que o mundo expande como o vento. Ao nascer o dia desperto, e recoloco as atividades projetando as horas seguintes, mesmo sabendo que o instante é uma contínua surpresa.

Assim deslizam os dias e as descansadas noites, transmutando na sabedoria do porvir, e na quase imperceptível realidade dos sonhos. É provável que haja movimento até no silêncio, quando aflora do pólen uma pulsação eterna, o renascer e a contemplação.