Vendedor de páginas de amor.

Me lembro ainda como se fosse hoje de manhã, aquele senhor, parado em frente do portão. Trazia consigo uma mala escura e desbotada, de fechadura enferrujada e manchas do tempo, por ali ele ficou vários minutos enquanto eu o observava pela janela, tomei coragem e fui ao encontro daquele velho de aparência cansada e exausto da caminhada, perguntei o que ele queria, e ele me respondeu água, peguei logo um copo e o dei. Enquanto ele tomava verazmente e sedento, não pude conter em perguntar de onde ele vinha e quem era...

Ele parou, enxugou a boca e me disse:

- Venho, meu rapaz, venho de algum lugar do destino, alguma ruptura me fez. Sou um vendedor de páginas de amor.

Assim ele me disse, ponto a mala no chão, e abrindo-a me mostrou folhas avulsas, muitas folhas douradas e letras vermelhas, e me explicou, estas são todos os corações que o amor juntou e na mesma folha tem um único fim, cujo destino partiu, eu nasci dali, sou todas as lembranças, todos os desejos, sou todos e cada pessoas que se juntou no amor e se separou pelo destino, sou vago e sou cheio, talvez eu não exista mais, mais um dia fui feliz, e hoje perambulo por ai, à venda, vendendo, sendo esquecido, tentando esquecer.