VIDA MISTERIOSA, A MINHA


 
     Quanto mais a vivo, a minha vida, quanto mais escrevo sobre  ela, com palavras e circunstâncias muitas vezes camufladas, essencialmente por respeito a outros e aos seus próprios segredos - não por causa dos meus próprios segredos - me dou conta do quão misteriosa é minha vida e boa parte do que nela ocorre, também  pela presença de boa parte dos seres que a compõem.
     Respeito todas as religiões; não tenho nem pratico nenhuma. Filha de pai ateu, no entanto apreendi e apreendo a  existência do Mistério pelos fatos e pelas presenças das pessoas da minha vida. Talvez, em última análise, seja assim com todos. Não o sei. Sei apenas de mim e sei do Mistério no qual me tem cabido, sempre e sempre, viver. Chamo de Mistério porque não encontro que outro nome possa dar a isso que chamo de minha vida. Mistério que quase sempre tem sido dor e perda e renúncia, mas, que tem tido também alguns ganhos indeléveis, profundos, cuja natureza muito poucos conseguiriam compreender se eu pudesse realmente dizer desses alguns ganhos indeléveis que não me é dado partilhar com ninguém... nem na vida virtual, nem nessa que se costuma chamar de vida imediata, real.