Sobre a vergonha
A vergonha, além de um sentimento, é também um sintoma de uma sociedade doente.
Uma sociedade que exige determinados comportamentos desnecessários, determinado corpo perfeito, nem muito gordo nem muito magro, tudo é determinado conforme alguém desejar. Alguém que tenha o poder de impor suas vontades sobre os demais, alguém que tenha um cargo ou título, lábia, retórica, dinheiro, uma religião, enfim, qualquer tipo de poder.
Sob vaias e pedradas a sociedade cobra seu preço, pois os estúpidos estão sempre prontos para a estupidez. Quem não se adaptar rapidamente é rotulado e vira objeto para chacotas de terceiros. Então, muitos de nós ficam desesperados, passam a vida se escondendo dos outros atrás de suas próprias vergonhas.
A vergonha é um decreto, pra quem tem vergonha de si mesmo. Quem tem vergonha de um defeito ou do seu próprio jeito, na verdade não está contente com como os outros o veem, e como não sabem lidar com estes olhares, se escondem.
Quem não está contente consigo mesmo não fica paralisado e vai à luta para conquistar as mudanças que deseja. A vergonha depende de um olhar alheio para se concretizar, ou da expectativa desse olhar reprovador.
Somos apenas pessoas, temos defeitos e feiuras, e embora todos tenham particularidades íntimas que querem guardar para si, ninguém está obrigado a sentir vergonha de nada na vida. Ninguém pode exigir que a gente seja diferente do que quer ser, e se for assim, azar o deles.
A gente já nasce sem vergonha, ela nos é imposta na infância e quem é mais esperto nem carrega, ou se livra logo dela. Quem não sente vergonha de ninguém vive menos infeliz consigo mesmo.