Lágrimas em linhas tortas

Eu desejava escrever lágrimas. Isto. Lágrimas! Não desenhar na superfície listrada do papel a palavra “lágrimas”. Não é isso! Eu queria poder transformar o que sinto em poesia, invadir e ultrapassar o papel, ir além dos símbolos, quebrar regras, fugir dos meus pais, ser dono de mim.

A verdade é que me perdi. Aos poucos, vou deixando os amigos, mas não é isso o que quero. Sou obrigado a deixa-los, entende? O problema é este fogo, essa ânsia por transformação. A voz muda, o corpo vai junto e o “eu” de agora não é mais o “eu” de outrora.

Infelizmente, eu tive que aprender cedo demais. Entender que tudo isso passa, como um rio, e que não volta. Não volta? Não volta!

Cadê minha liberdade? Ela já se foi ou ainda há de vir, fugaz e destemida como uma ventania?

Eu desejei escrever lágrimas porque não queria sair daqui, ir além de mim. Queria mesmo era permanecer, inalterável, jogado na cama com os meus passatempos...

Mas e seu eu aceitar? Se isso der certo? NÃO! É claro que não!

Mas o que vem depois de tudo isso? O que surgirá?

A terra, a maturidade – respondo a mim mesmo - quando a força que é esperada já se tem ido há muito tempo.

Eu só queria escrever lágrimas, mas não sei... Então desisto!