OLHOS QUE LEEM OS MEUS...
Quantos olhos se cruzam com os meus olhos
Fixos, desviantes, desinteressados
Fruto de caminhos inversos de quem os passeia
Alguns suscitam maior atenção do que outros
Outros sofrem o crivo da pequena distância
Promovendo aquele segundo em que se encaixam
Quase todos, porém, não resistem à erosão do tempo
Raros são os que, passados momentos, ainda se recordam
Mas os teus, os teus são como lentes de grande alcance
Que leem os meus até às profundezas do âmago
São radares que registam os passos que me preparo para dar
Ou os pensamentos contidos como pasta de papel
Os teus olhos nos meus são como uma armadilha
Que enreda o felino e o manieta para todo o sempre
Fixos, sagazes, desfolham as páginas de um livro imaginário
Onde constam os mandamentos de toda uma vida
Ou, prefiro ser realista, de uma parte da vida
Os teus olhos que leem os meus
E os fazem sorrir como um toque de magia.