Uma luta de muitas

Apanhar dói, né. Não só no corpo, mas dói na alma, no espírito, fere a dignidade.

Eu já apanhei muito de pessoas que não tinham o direito de me machucar. Apanhei com a força bruta do corpo e a mais cruel da alma, apanhei com tapas e palavras. Vi quando pequena mamãe apanhar do papai e depois de grande, eu me vi apanhando... Do primeiro namorado que em um lindo dia tentou me jogar na frente de um carro, do segundo que bateu na minha cara expulsando-me para fora de sua casa depois que neguei meu corpo e do terceiro que quando achei que tinha esquecido, usou da força para me lembrar.

Depois de passar por tudo isso, a gente aprende a apanhar calada, de cara baixa, e quando os malditos se vão, apanha-se de si mesmo, com caixas de remédios engolidas em uma tarde qualquer, com pó na ponta do nariz, com facas coçando os pulsos, as pernas e os quadris, com a corda amarrada no beiral da porta antiga da cozinha. Apanha-se não comendo, não bebendo, não banhando-se, não sorrindo, não vendo, não vivendo.

Mas qual o problema disso? Ouvi tanto que é culpa minha, fosse de paixões ou amigas, que entendi dentro de mim, que foi eu quem pedi.

Me sinto apática, envergonhada e derrotada, dor de morte no peito que não desejo à ninguém. Por isso luto para quebrar tudo que construí em mim, NÃO É MINHA CULPA, NÃO FOI EU QUEM QUIS, e aí sim poderei declarar de boca cheia: "EU SOU FELIZ".

É um processo, senhoria, não há ato que justifique tapa na cara das mina.

Sâmia Chay
Enviado por Sâmia Chay em 23/08/2015
Reeditado em 21/10/2016
Código do texto: T5356503
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