E então, eu resolvi assumir

E então, eu resolvi assumir

A verdade eu conto. Todos os dias eu só me sentiria bem se alguém me fizesse um elogio, se comentasse sobre meu cabelo, minha nova blusa, meu perfume e mais. Eu há tempos tinha a necessidade de ser o que o outro dizia que eu era, e assim eu fui transformando-me num completo garoto cheio de complexos, problemático quando a mim mesmo, a minha imagem.

Ao sair, era certo que se eu não ouvisse o " tá lindo", eu certamente não sairia mais, por quê? Porque passei a vida dando importância a você, a vocês.

Passei a vida pergunta o que achava de mim, quando na verdade eu devo saber de mim e não devo me incomodar quando não me incomodo. Quantas vezes troquei de roupa quando eu não queria, tantas vezes troquei de perfumei quando não queria, quantos vezes deixei de ser eu por dizer que amava alguém. Eu respondia aquilo que você queria, fazia suas vontades. No espelho a mesma dor, da rejeição, do desprezo. Nele, ouvi suas vozes, vozes que comentavam seu tipo de pessoa, aquelas que mais te atraíam, eu tolo, resolvi mudar a minha vida para tentar aparecer na sua.

Eu me escondia dentro de mim porque eu sabia que no fundo algo me movia a fazer tudo aquilo, a me boicotar, a não me admirar, a não reconhecer o que sou. Muitas pessoas nascem bem determinadas a não ouvir as outras, chegam até a passar dos limites, eu fui ao contrário, é que não sei fazer outra coisa a não ser querer agradar, amar e entregar minha vida a coisas e pessoas que não me dão e nunca me darão valor. Mas eu estava enganado sobre esse valor, eu o confundia, não espero valor de ninguém a não ser de mim mesmo.

Foi daí, que eu resolvi assumir

Assumir a minha cor, o meu cabelo, o meu tamanho, o meu andar, as minhas roupas, as minhas músicas. Decidi assumir o meu sexo, o meu sexto sentido, o meu lado feminino, o meu lado masculino, as dualidades, meus vícios, minha dança feia, minha beleza ou não beleza. Coloquei um ponto final nesta história, resolvi declarar que sou chato, esquisito, metido, que às vezes minto, que tento impressionar, que me contradigo, que eu erro e muito.

Para viver a minha vida bem tive que matar o que você pensa ou acha de mim. O que você sente ou não por mim! Vou continuar com minhas calças largas, minhas sandálias, minhas manias, meu perfume, com meus palavrões, com minha religião. Vou pagar os micos, ser duro para dançar, vou me olhar no espelho todos os dias e vou me achar bonito, mesmo acordando, com cabelo pro alto, com o rosto amassado. E se alguém tiver de me amar, vai ser como aquele velha história, terá de ser amor pelo que eu sou e não pelo que eu demonstro ser.

Arthur Montenegro
Enviado por Arthur Montenegro em 23/08/2015
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