NO CANTO DA SALA

Parece que tudo escureceu

Os quintais ficam planos

Os abajus desligados

E no canto da sala o olhar.

O olhar preso em idéias.

Pedaços desfeitos...

Cantos abertos...

Não vivemos sós.

Primeiro somos nuvens,

Pedaços sem sonhos.

Depois somos vida,

Recanto de cada ser...

Subtraio as essências de tudo

E sinto as células se retraindo

Se machucando

Uma a uma...

Primeiro raiz, depois caule, galhos, folhas, frutos.

Imagino o olhar.

Não tem mágoa nele.

Apenas a constatação da luz

Do abajur apagado

Me recinto e vejo: tudo escureceu...

Tudo pintou-se de negro.

O azul perdeu o lugar.

O branco se assustou.

Nada orgânico.

O inorgânico se evidencia.

O vazio se preenche do nada...

Os sinos tocam.

Um.

Dois.

Três...

Três badalas.

O tic-tac do relógio me incomoda.

Passam-se os minutos,

Segundos, milésimos...

E no canto da sala só o OLHAR.

Andréa Mélo De Almeida Farias
Enviado por Andréa Mélo De Almeida Farias em 21/09/2015
Reeditado em 27/06/2016
Código do texto: T5389204
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