O que sabemos é menos do que ignoramos

Sabe-se que nos últimos cem anos, ficaram evidentes coisas que estavam encobertas pelas trevas da ignorância para os antigos. Muito se conheceu como novos mares, novas terras, hábitos, leis, mares, ervas, árvores, minerais, artilharia, bússola e muitas línguas antigas foram descobertas.

Se descobriu mais coisas neste último século do que na história de quatro milenios. Mas isso tudo parece que não é válido para o homem natural.

Encontramos todo o tipo de pessoa hoje. Existem, principalmente no meio acadêmico, muitos indivíduos ditos eruditos, que sobem no pedestal da universidade e acreditam que são autoridades em algum saber, acreditam que são demiurgos em algum saber, no entanto se enganam.

Quando era aluno de letras da UFRJ(só cursei uma semana para variar), recordo-me que lendo o manual do aluno de letra, constatei que só a biblioteca de letras da UFRJ possuía e possui até hoje cerca de quatrocentos mil volumes. Sempre, então, que entrava naquela biblioteca ficava humilhado pelo saber ali depositado e o saber depositado no meu intelecto, de modo que penso logo na famosa frase de Sócrates: " Só sei que nada sei". É uma frase famosa e verdadeira. Só se ilude com o saber quem quer porque não sabemos nada e a medida que estudamos mais e mais compreendemos mais e mais que que nada sabemos.

O que sabemos de fato é não menos do que ignoramos, mas é muito e muito menos do que ignoramos.

Além disso, podemos pensar que não se esgotou o conhecimento e muita coisa ainda está por vir.

Quem já fez uma visita a Biblioteca Nacional que fica no Rio de Janeiro pôde constatar a grandeza de obras de todo o tipo que lá estão depositadas. É um universo de saber se acumulando com a edição de milhares de obras por ano no país, sem contar com as obras que não são depositadas mais lá.

Se Maltus dizia que a comida tinha progressão aritmética e a população geométrica, se ele tivesse contemplando essa nossa atualidade livresca, diria que o homem tem progressão aritmética e o saber geométrica.

Se publica todo o tipo de obra desde de obra erótica até obra clássica.

Há gosto para todos os tipos de literatura e quem sai ganhando nessa história são as próprias editoras e livrarias que lançam obras de conteúdo duvidoso, obras feitas somente para leitores de massa, obras sem requinte algum que dão a impressão de ensinamento, de conhecimento, de aprofundamento em certas matérias, mas não preenchem o vazio de saber inerente ao seres humanos.

Todavia, acredito que o povo deveria voltar-se para o início de tudo, voltar-se para as obras clássicas que as faziam pensar de uma forma diferente, eloquênte eu diria.

Não sabemos muita coisa e ainda quando somos influenciados a ler livretos que não contribuem para nossa formação intelectual passamos a não somar nada a nossa mente, mas simplesmente a reproduzir opiniões que não podemos saber se são verdadeiras.

A leitura liberta o homem da escravidão da ignorância que o cerca desde da infância. Quando pensamos que mais sabemos estamos é mais confinados em nossa própria mentalidade de saber. Não há desenvolvimento desse jeito. Precisamos de baixarmos a crista e entendermos que não sabemos nada e que precisamos de buscar a nossa formação intelectual. Seja por meio do que for, mas que traga algumas benesses para nosso intelecto.

Não vimos ainda a luz que emana do universo. Estamos dentro da Caverna de Platão ainda. Uma caverna escura em que não conseguimos ver nada a não ser escutarmos ruídos sem contar que estamos acorrentados para não nos livrarmos. Note bem que estamos presos em amarras que fomos adquirindo desde da nossa idade tenra. O difícil, nessa altura do campeonato, é nos libertamos delas. Ademais, ouvimos ruídos ensudercedores que não nos deixam ouvir novas mensagens que nos libertarão. E pensamos: como gostariamos de sair da caverna, ver o horizonte, a luz que brilha lá fora, mas ficamos tolidos. A sociedade nos tole, a religião nos tole, a família nos tole, as leis nos tolem, a convivência com os outros nos tole. O que nos liberta mesmo é o se desfazer de nossas armarras, nossos grilhões, nossas algemas que os outros e nós mesmos nos colocamos.

Vamos sair da Caverna de Platão nem que seja por um minuto e quando voltarmos e anunciarmos a tão grande descoberta para quem nos tole eles também deixarão de ser tolidos e nos tolir se virem a luz brilhar.

Percebemos que o que ignoramos é muito grande perto do que sabemos, não é verdade?

Quando olhamos a nossa volta parece que estamos presos dentro de quatro paredes e conseguimos apenas ver o mundo da janela. Quem está lá de fora tem uma visão ampla até mesmo da nossa janela.

Ignoramos muita coisa. Já até dizia que o grande ciêntista Darwin ignorava muita coisa quando defendeu sua famosa tese a respeito da origem da vida. Naquela ocasião ele não tinha microscópio e não podia visualizar muitas matérias que acabou ignorando em sua tese.

Em todos os tempos sempre existiram cinco ramos do conhecimento e, vejam só, ignoramos muitas coisas desses conhecimento. O conhecimento senso comum é o mais antigo, o conhecimento mitológico, o conhecimento filosófico, o conhecimento religioso e o conhecimento científico formam o arcabouço do saber. Não obstante existirem todos esses conhecimentos, o mundo só confia no conhecimento ciêntífico. Por esse fato, o homem ignora mais coisas do que sabe. Não se pode ignorar conhecimentos que são importantíssimos para nossa reflexão sobre as coisas.

Chega-se a conclusão de que o homem continuará ignorando mais do que sabendo. Ele não tem mais tempo para reflexões profundas e para usar seus sentidos para captar com grande plenitudes os saberes existentes em todas as formas de captação dos sentidos, a não ser os cientistas que se ocupam da arte de pesquisar e pensar.

No mundo de correria, onde impera o dinheiro(deus do mundo), não há mais tempo para intelectuais, não há mais espaços para os intelectuais que não colocam mais a "boca no trombone", não fazem mais estardalhaços, não gritam mais.

A medida que o tempo passa, os saberes aumentam e o tempo para aprendermos esses saberes diminui. É algo inversamente proporcional.

Quantas editora, livrarias, bibliotecas passaram a existir? Quantas obrigações diários passaram a aumentar? Família, trabalho, estudo, religião, recreação e tudo que toma o nosso tempo.

A contemplação, acredito que era coisa para os antigos. Podemos hoje tentar entender aquilo que para nós será legítimo e que usaremos no cotidiano.

Até quando pensaremos que o que sabemos é maior do que o que ignoramos?

Quem quer se enganar que se engane, mas quem não se enganar estará apenas evidenciando alguma coisa que é a pura verdade: " só sabemos que não sabemos".

Filósofo místico
Enviado por Filósofo místico em 24/06/2007
Reeditado em 25/06/2007
Código do texto: T539512