Carta Pensamento - Desejos de uma pessoa que sonha.

Um dia, na verdade, durante muitos anos que julgamos estarem reduzidos a dias, desejei escrever como Clarice Lispector,Proust ou Mário Quintana. Este último mais recentemente. Queria ter o talento para a palavra, tanto quanto tinha para a compreensão das artes visuais.

Sempre acreditei que as artes nos ajudam a viver melhor ou a interpretar melhor os fenômenos da vida que não compreendemos muito bem. Também é verdade, devo dizê-lo, tem o poder de iludir muito ou pouco.

Escrever é sempre especial, ainda que as palavras sejam de difícil “manejo”. São como um cubo mágico: O excesso de cálculos leva à tontura e o relaxamento das tentativas nos leva à solução. Coisas inesperadas surgem, coisas que denomino aqui como sendo milagres.

Escrever também gera esvaziamentos, que aos poucos, notei, serem fundamentalmente necessários à alma. Nenhuma pessoa pode carregar dentro de si, por tanto tempo, expressões presas e omitidas por falta de espaço. O papel tornar-se, certamente, o espaço mais apropriado.

Quem escreve não é porque queira transformar as pessoas, creio eu, mas porque quer, ainda que inconscientemente, transformar a si mesmo ou na mais básica das hipóteses, aliviar-se de reflexões ou buscar uma espécie de confirmação.

Como Clarice disse: “Eu escrevi para não morrer”.

É como se eu sofresse de asma e a única coisa viável para impedir-me o sufocamento, fosse o lápis e o papel.

Anaís
Enviado por Anaís em 26/06/2007
Código do texto: T541268