E S C A R R O

Aviso diante mão que esse texto não é poesia, nem prosa, nem conto e nem nada que valha a pena ler.

É um escarro dos dias que vem se acumulando por aqui e causando pigarro na garganta.

Pois bem, vamos falar das pessoas, das pessoas que conheci ao longo desses vinte e poucos anos.

Sempre gostei de conhecer gente, conversar, contar e ouvir coisas! Não existe nada mais interessante do que imaginar como seria viver a vida do outro. Mas então, em uma manhã silenciosa, com os olhos ainda fechados, você percebe que nem todo mundo tem o hábito de imaginar ou se colocar na vida dos outros. O fato do sorriso estar sempre estampado no rosto, não significa que o mar está calmo. As amizades acabam surgindo por conveniência, em um momento de tristeza, angústia ou qualquer outro tipo de aflição que sufoque o peito.

Um ombro disponível!

"Gostaria de conversar?", e temos então, uma cachoeira diante da gente.

E o outro se torna rio e vamos seguindo a correnteza...

Enquanto isso, o cérebro começa a raciocinar uma maneira de ajudar aquele pobre ser correnteza.

As vezes não sei muito bem o que dizer, acabo me tornando cachoeira também... Mas o calor humano ainda é a melhor opção. Um abraço apertado.

Não sei como foi que acabei entrando nesse assunto, queria mesmo era falar do egoísmo dessas pessoas.

Também não sei se "egoísmo" seria a palavra certa e acabo voltando para o termo "amizade por conveniência".

Certo dia, um amigo me falou, que ninguém se aproxima de outro alguém sem que tenha um interesse oculto. Escutei atentamente e discordei quando ele terminou. Tentei encontrar argumentos que provassem que ele estava errado. Não consegui.

A verdade é que sempre estamos procurando algo que possa nos satisfazer (de alguma maneira) em outras pessoas. Mas isso também não significa que seja lá tão ruim assim, existem interesses saudáveis, como um abraço ou só a vontade de conversar, por exemplo.

Mas se pararmos para refletir um pouco, veremos que acabamos por nos tornar descartáveis, entende?

Como uma latinha de refrigerante, que após saciar a sede é descartada em alguma dessas lixeiras espalhadas pelas ruas, ou não (se a pessoa for mal educada, vai jogá-la no chão mesmo), mas aí já são outros 500...

estamos vivendo uma geração de pessoas descartáveis! Me causa uma certa aflição ter que usar essa palavra "descartável", mas é o que pude constatar nesses últimos meses.

Bem, também não é motivo para se lamentar ou guardar aquelas pedrinhas de rancor no peito, temos que aprender a ser filtro! E mais importante que isso, praticar o exercício de "fazer" sem esperar nada em troca.

Existem coisas na vida que são feitas de maneira espontânea, o problema é a dificuldade que as pessoas tem de acreditar que um gesto de gentileza é APENAS um gesto de gentileza, involuntário, que poderia ser feito por QUALQUER pessoa para QUALQUER pessoa.

Vivemos muito na defensiva...

Boas intenções podem ter interpretações diversas, essa é a verdade.

Como consequência, preferimos ficar sozinhos, isolados e afastados desse mundo descartável e frio.

E assim, seguimos, guardando os escarros e esperando (quem sabe) uma bronquite.

Dizem, ainda, que dar porrada em ponta de faca machuca. Particularmente, eu nunca tive problemas em relação a isso. Sentir dor não é algo tão desconfortável assim.

Mas o cansaço das porradas proferidas sem descanso esfacela os dedos. E bem, quero continuar com as minhas mãos, entende?

Boa noite

Clara Lopes
Enviado por Clara Lopes em 16/10/2015
Código do texto: T5416127
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