O exercício inútil de viver

A vida sou eu. O que digo dela não tem importância para a, devidamente dita, Vida. Quando julgo falar acerca da Vida, falo senão acerca de mim. Essa subjetividade, que deixa posta uma insensatez e prolixidade, uma impertinência, da ação humana, haveria de ser suficiente para suspender esta (ação) em busca por respostas gerais. Mas, ora, isto não me aparece como, de fato, inteiramente possível. A simples caminhada do nascimento à morte aparece-me, nitidamente, inconcebível - embora cheire como solução. Solução, a saber, no sentido de que, suposto um quadro geral (da vida), tudo é apenas "poeira no vento"; pois, claro está, este quadro geral põe-se insistentemente enquanto fim - enquanto morte, ou unicamente enquanto sua possibilidade. Então, a opção prescrita à nossa existência é dar existência ao meio entre os extremos de nascença e morte, enquanto que, ao fim, o sopro atingirá apenas estes (extremos) - os dias odiados, porque nascer não vale a pena, o que anula toda busca por sentido, inclusive à morte. Ou, pior: em dia, espaço, nenhum. Devemos, então, ter a audácia, nestes dias medianos, de falar acerca de tudo a partir de nada, que somos nós. Eis a máxima do ser humano. O que, no entanto, ao máximo, ouso fazer, é, como já feito, tomar notas desta incapacidade do eis-nada em chegar ao eis-tudo. Feito isso, em simples fim de alimentar a ânsia natural por respostas, hei de - ou, ouso - filosofar, por assim dizer. O resultado deste empenho, deixo de antemão, há de ser o mais correto dos resultados possíveis - de que não há respostas. Ou, melhor dizendo, há respostas, mas todas sob a égide do estupendo salto que vai de nada, do ser humano, ao tudo - seja o que isto for, se Deus, se o Diabo.