Fica pra depois.

Debruçado sobre a branca folha na qual esperava expressar alguma coisa deste meu tão cansado pensamento, aguardo ansioso o passar do bloco e todo o barulho que ele faz ao descer à ladeira que o conduz a praça na qual a maior parte da algazarra agora se faz. Pois de momento não há como dividir espaço entre o que tento pensar e o zumbido dos chocalhos, dos atabaques, dos tambores, e dos gritos de alegria dos que participam enquanto não houver um silencio absoluto ou que não seja mais audível o som da velha cuíca. E de tão concentrado que estou na espera de que todo este barulho logo venha a terminar que nem percebo que entre os meus dedos a caneta, esta com a qual sempre escrevo parece ter criado vida, pois do nada começa a tamborilar num ritmo frenético batendo na madeira da mesa e com isto tirando de mim todo o restinho daquilo que seria talvez uma das minhas melhores inspirações, e com isto me fazendo ir pra outros caminhos, e o que era pra ser acaba ficando pra depois. E quando toda aquela agitação chegou ao fim, o silencio, aquele que eu tanto esperei finalmente adentrou pela minha porta da frente, ele, o amanhecer, os primeiros raios de sol, e... Eu.

DIASMONTE
Enviado por DIASMONTE em 08/02/2016
Código do texto: T5536977
Classificação de conteúdo: seguro