Respirando no planalto central

Teu nome é imensidão. Permito Brasília como apelido, uma concessão aos pioneiros e a todos que já te homenagearam. Não sou egoísta, nem você. Mais perto do céu, num planalto deram-te formas, para um casamento ímpar entre imensidão e céu. De verdes e azuis marcantes. De concreto armado e nuvens que molham ou brincam de seca.

Afirmam que não tens esquinas, mentes limitadas. Tens pilotis! Permissão para traçar retas por dentro de um sem fim de espaços. O vento sabe bem disso! Fiel acompanhante dos seres humanos a percorrer trilhas desenhadas por placas de concreto que orgulhosamente apresentam digitais e rugas de décadas. Gosto de ser um deles... e caminhar. Não dá para perder-se. Mesmo perdido. Quadras, muitas! Formando uma geometria poética que vista de cima parece monótona, repetitiva. Não é! Procure um ponto, tem uma história. É só ter ouvidos atentos... mente aberta! Uma poderá ser sua.

Marcante tom de barro desponta em todos os espaços que o deixam gritar. Acompanhado por intermináveis mantos verdejantes, casamento corriqueiro. Tem seus pontos baixos quando a seca domina. Mas ao primeiro sinal de chuvas, a paz ressurge e a Natureza volta a brotar com extraordinária força. Os eternos amantes harmonizam, interiorizando o que incontáveis ipês, de forma efêmera, inundaram. Matizes marcantes, florescer que não cansa de maravilhar quem os contempla.

Relembro o canto das cigarras, ou seriam seus gritos? Ultrapassavam o som da trilha sonora que acompanhou meus passos, descobertas, encontros. Difícil não andar, ouvir, reconectar e sentir a emoção vir à tona. Energia pulsante apesar do vazio. Do silêncio da natureza mesmo quando cimento e tijolo se fazem presentes.

Cidade de pluralidade cultural sem igual. Sotaques cantados, herdados da família de inúmeros candangos que marcaram com sangue, suor e lágrimas estas terras. Até hoje creio que cada pôr-do-sol, que repinta diariamente esta imensidão, os reverencia.

Terra com gosto de melancia e aroma de gengibre. Meus. Frequência reduzida, ritmo lento. Calma. De quase todos. Nos eixos, monumental! Na esplanada, arquitetura para se respirar. Fundo.

"Se o futuro é mistério

Só tenho medo do que sei

Me soltar teu, largado

Irresponsável por viver"

Peço permissão ao meu amigo Tito Marcelo para retirar de sua música “Outubro” estes versos, doravante acompanhantes eternos de um sentir profundo que nutro por esta cidade. Um desejo. Fora do tempo.

Fernando Antunes
Enviado por Fernando Antunes em 14/03/2016
Reeditado em 14/03/2016
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