Eu vi a face de um homem que amei...


 
        Eu vi a face de um homem que amei em espaços muito outros que os deste Recanto, ir se convertendo, a face dele, no decorrer de muitos, muitíssimos anos, no rosto da solidão, solidão dele e também solidão das muitas mulheres que o amaram, a minha própria solidão, inclusive e principalmente. Não quero ver, nunca mais, o rosto deste destino terrível no rosto de mais ninguém. É preciso se ser verdadeiro, seja como for, pague-se sempre o preço que for;  é melhor que seja 'apenas' o preço da solidão existencial, aquela que nos pertence a todos, desde que nascemos, aquela que nos acompanha mesmo que estejamos o tempo todo acompanhados, ainda quando não se tenha consciência disso. Não a solidão do rosto daquele homem a quem amei tanto, aquele homem refém de sua própria  e excelsa Poesia; refém e algoz por conta da 'ação'  de sua excelsa e própria Poesia, bem como de sua existência de homem a serviço de utopias políticas que acabaram por revelar-se na sua, dela, mais terrível, abominável face. Aquele homem de outros espaços cujo rosto não tenho forças mais para olhar frente a frente. Meu mais triste amor e cúmplice (e outros dois existidos incluindo, um desses outros dois, aquele que foi meu companheiro efetivo) ... aquele ser de outros espaços que, apesar de tudo eu gostaria, ainda, de poder amar... e ainda amo, no que me restou de nós... mas, o que me restou de nós é muito pouco, é pouquíssimo...