INQUIETAÇÃO

Como se chama esse vazio que nos toma por dentro, fazendo de cada minuto de nossa vida uma eternidade? É uma sensação estranha, de não entendimento do que se está acontecendo, como se cada segundo contasse e fosse decisivo para isso que chamamos de viver.

Me sinto inquieta. Mas me sinto de uma forma totalmente adulta, madura, e não como uma criança que espera ansiosa a hora da sobremesa. A criança devora a comida - engole, sem mastigar, sem degustar - e depois se inquieta à mesa, esperando que todos terminem para que a sobremesa possa ser servida. Não, a minha inquietação não é desse tipo. Sinto que saboreio a comida, experimento seus gostos, suas nuances de sabor, e consigo separar o que me agrada e o que não me agrada, exatamente por estar sentindo. E se depois vêm a sobremesa, apenas a aprecio como se deve apreciar: sem muito alarde.

A inquietude que me atormenta, esse vazio que me remete à eternidade, sinto ser mais profundo que minha própria existência. É como se esse vazio fosse perdurar caso eu viesse a desaparecer. É um vazio constante, dolorido, nauseante. Me faz refletir, me faz contar os minutos, e me deixa angustiada. Olho no relógio afoita, e fico só esperando o próximo acontecimento, o próximo passo. Agora, nesse exato instante, sinto náuseas. Como se o que eu estivesse prestes a revelar fosse para mim uma descoberta muito importante. Como se dessa descoberta dependesse todo o meu entender desse processo que se desenrola dentro de mim, e que me remete ao vazio que tanto me incomoda e instiga. Sinto que estou dando o próximo passo...

Quando traduzo em palavras o que dentro de mim me atormenta dou forma ao vazio. Esse vazio torna-se o meu demônio, e minha escrita a sua forma. Assim, minha inquietude se acalma e posso por um momento sentir o gosto azedo de estar sendo útil. E útil a mim mesma, pois estou nesse momento entendendo o que me atormenta. Coloco para fora o meu demônio arredio, que antes era o vazio, e o encaro de forma contundente. E assim eu o revelo. Assim, eu me revelo.

São Paulo, 05 de Julho de 2007.