Passado

Olhou no espelho e já não era o que queria refletir. Nunca foi. E apesar de querer mudar, algo ali fazia parte de si. Era ineficiente que tentasse se auto corrigir, acreditava que nada que fizera foi para suprir seu ego, e sim suprir o que lhe exigiam. Certamente estava errada. Amava pelos outros, era amada por si.

Não se tratava mais de suas luxurias carnais, e sim o buraco imutável de uma solidão latente. O qual permaneceu vazio desde que soube o que era sentir. A questão que leva a irresponsabilidade de ferir, a insuficiência do "se sentir completa". Era o vazio, uma cápsula de vidro a qual não permitia penetrar, mesmo que quisesse que tal fato acontecesse, algo no seu inconsciente bloqueava quaisquer faculdades sentimentais. Tanto que quando sentiu-se completa, não soube sentir.

Feriu quem menos queria, quem menos deveria.

O fato é que uma barreira não só protege, mas também contra ataca. É irônico como isso acontece com coisas que não querem te atacar. Mas acontece. aconteceu. E para negar qualquer envolvimento, se envolveu. Tanto que perdeu os extremos do ridículo. Para não amar, "amou", a pessoa errada, certamente.

Alguém que não lhe atingisse, não lhe subestimasse, não lhe assustasse. O conforto do domínio. Nota, o que lhe conforta, geralmente não é o que realmente te faz bem. Não fez.

A questão já não era se redimir com alheios, a questão era si próprio. Não aceitar os próprios atos. Um corpo subdividido. Entre o fazer e o querer fazer. Suas próprias funções incontroladas e desorientadas pelo instinto. O qual não estava calibrado. Mesmo depois de concebido, não era libertador, não era prazeroso, muito menos supria o ego. Na verdade era apenas um motim contra si mesmo, não se permitindo, permitir.

Newton estava certo sobre a lei de ação e reação.

A auto piedade.

Insatisfatória, a impossibilidade de aceitar seus atos. Talvez, finalmente, um pouco de altruísmo. A maneira mais sutil de negar um total egoísmo. Como revidar contra algo que pertence à suas percepções?

Apesar da alteração das mesmas, atos são adicionados ao histórico consciente. Não lhe permite ao exato "esquecer", ocultar talvez. Sobre citações, algo mais singelo vindo dá avó de alguém: "Nada dura pra sempre".

E talvez sinta-se agora, como se sentiu pós-ato, como se não fosse você naquele corpo. Como se não respondesse pelo o que fizesse, como se realmente fosse a melhor saída.

A linha tênue entre a ingenuidade e o racionalismo. A ingenuidade superestimada, uma solução sem resposta. O racionalismo, de dois modos, o mais fácil como dois e dois são quatro. Ou o modo mais difícil, como na mesma equação podemos obter cinco. E que pessoa aceitaria tal resposta?

É assim em casos interpessoais.

Procurar a resposta mais óbvia do que achar a equação pra resposta certa. Nenhuma é exatamente errada ou injusta, mas dependendo da opção, é assim que tudo acaba, acabando.

Patrícia Campanholo Pereira
Enviado por Patrícia Campanholo Pereira em 24/05/2016
Reeditado em 26/01/2017
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