Criar meninas.

Colocar no mundo é fácil. Quero ver cuidar, proteger, orientar, educar, enfim, criar, preparar para a vida.

Mães, em um mundo machista como o nosso, devemos tomar o maior cuidado quando criamos filhas meninas. Não que não tenhamos que ter cuidado em criar filhos meninos. Não. Os dois merecem atenção. Mas estou falando que quando se trata de meninas, a atenção deve ser redobrada.

Estou cansada de ver casos de crianças vítimas de abuso sexual, sim crianças, porque uma menina de treze quatorze anos (ou até mais) não tem ainda discernimento de decidir sobre sua vida, de saber o que é sexo, de ser dona de casa. A maioria das mães tiveram seus filhos ainda na adolescência, com uns treze quatorze anos, ou até antes! E as culpadas sempre são elas, na opinião da sociedade. Sociedade que não foi nunca na casa dela levar uma lata de leite pro filho, ou um pão para ela tomar um café.

Aqui na minha cidade, houve um caso recente de uma criança que era abusada por um homem com mais de trinta anos, desde que ela tinha onze! Desde os onze ela convivia maritalmente com esse homem. O caso ganhou repercussão depois que ela faleceu em consequências da violência que ele cometia contra ela. Sim, além de abusar dela sexualmente, ele ainda batia. Bateu tanto que, este ano, quando ela estava então com quinze anos, ficou com uma lesão grave na cabeça que a levou à morte, de tanto apanhar do "marido".

Este é só mais um caso que revolta. Mas o que me deixa mais indignada, é o fato de a sociedade ter a coragem de apontar o dedo para pessoas como ela, e dizer que a culpa é delas. "Devia ser dessas crianças que não obedecem os pais", pelo amor de Deus! Estamos falando de uma criança de onze anos. Então a minha filha de onze anos chega para mim e fala: "vou morar com um homem de trinta e poucos" e EU permito? Gente, enquanto eu estiver boa do juízo e viva, vou cuidar da minha filha, e não importa a idade que ela tenha, pode ser maior de idade, ter vinte, trinta, quarenta anos, vai ser sempre minha filha. Maioridade é uma coisa, um número apenas. Maturidade é outra coisa. Vejo muitas mulheres com mais de vinte, trinta que ainda não atingiram a maturidade. Maturidade é atitude, comportamento.

A sua filha foi estuprada por mais de trinta "homens"? "ela não tinha nada que estar bebendo num baile funk!", dirá a sociedade, em sua grande maioria bestializada.

Sua filha "casou" cedo e teve filhos cedo? "a culpa é dela que preferiu dar em vez de estudar!". Ela foi assaltada na rua? Apanhou em uma festa? "problema dela, quem manda andar na rua ou em festas de orgias!?". Há comentários piores que eu nem ouso citar aqui, de tão asquerosos que são.

Mães, criem suas filhas, de verdade. Conversem desde cedo, deem conselhos, mostrem a realidade da vida. Quando ainda crianças, digam que há adultos que fazem mal às criancinhas. Ou então quando adolescentes, digam que lá fora o mundo é cruel. Que os "amigos" são capazes de drogá-las para se aproveitar delas. Não todos. Mas que tem, tem. Porque a sociedade só sabe apontar o dedo e acusá-las de serem elas as próprias culpadas pelo quê foram vítimas! É por isso que eu crio minha filha. Porque se eu não criar tá cheio de marmanjos querendo adotá-la.

Meninas: estudem, leiam bastante, se informem, se cuidem e se protejam, porque não é só a sociedade que sabe julgar. Infelizmente a "família" muitas vezes são os primeiros a apontar o dedo.

E quando eu falo que vivemos em um mundo machista, não me refiro apenas ao comportamento masculino. Não se enganem, há muita mulher machista por aí. E a pior atitude machista é aquela que parte de uma mulher. São essas mulheres que criam filhos meninos que se tornam homens machistas,que por sua vez criam outros filhos machistas e assim vai. Ainda bem que não são todas as pessoas que ficam estacionadas no tempo, com pensamentos e atitudes atrasadas. Graças a Deus algumas pessoas progridem e passam a pensar com suas próprias cabeças.

O assunto pode parecer polêmico. E é. Porém, é um assunto muito sério.

Não há nada de errado em usar roupas curtas, em querer sair, se divertir, namorar, enfim, viver, desde que você não tenha a má sorte de encontrar, aí nesses meios, "homens cheios de boas intenções" que podem te prejudicar, abusar da sua confiança. E como já dizia minha avó "não vem escrito na testa". Por isso a necessidade de cautela, porque o que não faltam são homens assim, que depois de cometerem alguma atrocidade contra alguma mulher, serão chamados no mínimo de garanhões, enquanto que nós, as mulheres, somos as vilãs, as culpadas, na boca da sociedade e dos próprios culpados.

Mães, meninas, mulheres: reflitam.

Joalice Dias Amorim (Jô)
Enviado por Joalice Dias Amorim (Jô) em 03/06/2016
Reeditado em 17/06/2016
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