O amor, essa raposa
As pessoas perfeitas e exigentes que hoje circulam pela Terra, após lustrar seus egos e cultivar orgulhos sólidos, tem na mão a lista de “coisas básicas que alguém tem que ter/ser para estar em sua vida”, e nunca se teve tanta proximidade e pouca intimidade na história...
Rascunhos mal feitos, todos se escrevem sem muito amor, cultivando vícios e defeitos, criando muros, vestindo carapaças grossas e armaduras de metais intransponíveis, com sorriso de aparências e lindos sorriso em fotos editadas, luzes e efeitos, um show de cores sem alma...
Vamos, então, nos arrastando, assistindo séries e filmes com melosidades irreais, amores em que não existe crise financeira nem famílias problemáticas, esperando o príncipe encantado com a aparência de estrela de Hollywood , com o eterno bom humor, o salvador de sua alma...
Eu gosto de pessoas reais que se preocupem em não me causar dor e sofrimento, que não acreditam que tudo o que é pensado tem que ser dito, que não impõe sua vontade , mas que cedem, negociam, amam, cuidam... Eu procuro pessoas que falem sobre ideias, sobre futuro, sobre coisas maiores que a mediocridade de fofocas cotidianas, que vejam tudo o que acontece como parte de um contexto e uma engrenagem, que consigam analisar não como eterna teoria da conspiração mas que também não seja inocente...
Colecionamos decepções, e como diz Cartola:
” Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés”