Despedidas....

Hoje as flores perderam as pétalas, talvez por perceber finalmente que é inverno, se recolher, repensar, para quando passar o frio, quando o céu voltar a ser azul convidativo sorrir...

A lua cheia deixa de ser bela, o gatinho filhote perde um pouco a fofura, há um tom de cinza no mundo, um novo tom de cinza na alma, e a chama da vida perde um pouco o brilho, recua...

As noites agitadas avisavam, mas sempre nutrimos uma espera, talvez um milagre, talvez uma luz divina que mostre como manter vivo algo que dava claros sinais de morte. Os sinos da igreja já anunciavam, mas os ouvidos se fecham quando está cega a razão.

O entrelace dos dedos tinham medo, os olhos se desviavam, não havia mais jardim secreto onde esconder, um abismo separa as almas quando não se vence os próprios demônios internos, pois nos matam, afiam nosso espinhos, a carapaça que nos distancia do mundo se torna espessa...

Há no silêncio uma falta de sonho, tem apenas aquela solidão de quem lembra que o mundo é apenas um espaço de possibilidades, um palco que convida a espetáculos, mas precisamos ter vontade de criar uma grande peça, ou se torna um mero espaço empoeirado. Os olhos ficam buscando um pouco de cor, a alma não sente mais conforto como está, há certo alivio e dor, a garganta não está entalada mais, mas isso não trouxe paz....

A dor é claro sinal de vida, dizem com poesia ou ironia, onde há a ausência desta? Se a vida é uma série de dores, internas e externas, decepções, sonhos quebrados, esta constancia de pequenos caos que vão minando o sorriso...

Sobram as canções, os versos, as cartas que não foram entregues, as magoas, o medo, a solidão... resta o fantasma, que pelos vãos lembram do cheiro, dos olhos, do sorriso...

Talvez seja apenas o universo dando uma chance de olhar de fora, um ensinamento de que o tempo tudo cura, que as vezes as pessoas precisam se afastar, crescer e depois se encontram novamente para terminar a missão. Sem egoísmos, sem querer possuir o outro, apenas cumprir o que se comprometeu antes de vir a terra, ser luz, ser paz, ser bondade e amor sem vícios. A maturidade virá, como o formato do corpo que modela qualquer superfície a que se tem contato com frequência, aceitar e usufruir da pequena delicia de segurar as mãos ao dormir, sem ser banal, a paz de um abraço depois do pesadelo, a caricia no rosto quando o coração está apertado, o abraço que protege do mundo mau... Valorizar a poesia é preciso cultivar olhos de poeta... o pessimismo, realismo destrutivo faz descrer, anula que o outro poderia estar em qualquer lugar e escolhe estar ali, ou o oposto, está ali mas focado em outra coisa...

Esperemos um pouco mais para plantar a arvore juntos, dar nome ao cachorro, para fazer café, surpreender com o bolo cheirando, o pão de queijo quentinho, a flor achada na rua, o vinho na noite fria, o petisco, o sorriso cúmplice ao observar as curvas no espelho...

Esperar...

T Sophie
Enviado por T Sophie em 22/06/2016
Reeditado em 22/06/2016
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