As vezes Thais.

Existe algo interessante na experiência de se distanciar, perceber que há um nível de dependência não percebida na proximidade. A vontade de contar sobre coisas importantes, mesmo que cotidianas, talvez esse seja o ápice da carência, nem é a falta do toque em si, mas da recíproca de importância em que o outro sorri com suas bobagens, que motiva suas loucuras e criatividades. Eu gosto de dividir a poesia da arte, das musicas, de algum texto ou vídeo, mesmo que seja muitas vezes algo teórico que pode não fazer sentido pro outro, mas que verá por ter sido compartilhado com este.

Sei que mantenho algo infantil em mim, inclui desde essa necessidade criativa e de conhecimento, mas também uma espera de recíproca, uma aceitação e admiração em relação a meu esforço... Muitos por aí com dramas dignos de novelas, baseados em expectativas sociais, em egos e disputas sem sentido real, assisto vendo patologias sociais e individuais, e preferindo ler sobre alguma tecnologia que economize recursos naturais, ou alguma descoberta que melhore a saúde da população do mundo. E nesse meio verei um vídeo sobre maquiagem, e logo sobre como pintar o cabelo em casa, mas permaneço, mesmo mergulhando em algum assunto superficial, evitando estes conflitos comuns.

Eu sinto falta da cumplicidade das piadas internas, daqueles sorrisinhos que misturam observações com lembranças, de respirar fundo e ficar em paz, e não aquela respiração curta de quem tem incomodo por um conflito eminente.

Quando me lembro das contas que não tem sido pagas na data, na tristeza de uma vida profissional, que em meio a crise, não tem se realizado, desejo um aconchego de quem me lembra que eu tenho fibra, que não é falta de esforço, sinto falta de uma dose de aceitação, carinho, admiração genuína. Estou com o ego diminuído por todo um contexto de vida, tentando não deixar chegar a se rebaixar a ponto de uma depressão. A solidão que sinto neste momento é de alguém que ouve muitas pessoas e que percebe claramente que ninguém se dispõe a ouvir em recíproca, e me calo. Quando eu preciso e não tenho retorno, me retraio, essa concha, carapaça que protege e isola, me condena ao um tom de cinza, mas como reivindicar entrega dos outros com quem convivemos? “meus bons amigos onde estão...?”

Ah! O grito fica preso na garganta, misturado com saudades, com medos, covardias, vontades, o desejo que está sempre em cada poro, mas aprisionado pela distância... Nada é mais difícil de lidar que desejar alguém e não apenas querer satisfação erótica, antes uma mera sede do corpo... mas quando a alma clama que a entrega seja alem? O que fazemos se a proximidade é caótica? O que fazer com a vontade de beijar uma boca, aquela boca, aqueles olhos, aquele cheiro que está fora de alcance? A lembrança do toque na pele que traz um misto de desejo e tristeza, como podem as emoções se misturarem assim, intensas, inebriantes, enlouquecedoras...

Minha vida medíocre, previsível, comum me traz um tédio profundo sem sonhos. Sozinha eu sou mais uma que luta, onde estão suas mãos para aquietar minha vontade de sumir do mundo? Aconchegos nos salvam do terror do real, familiaridade e carinho nos permitem não odiar o mundo e sim pensar que mesmo que haja algo ruim, tenho um lugar seguro para acalmar... Onde está você?

Eu consigo viver sem você, eu esfrio, perco a cor, trato com mais dureza tudo ao meu redor, mas não é a vida que gostaria, eu não sou boa sozinha, eu me torno menos humana, viro um bicho arredio, onça ferida, que caça, agride, e depois esconde trêmula em algum canto escuro. Eu não quero mais me tornar o rascunho mal feito de minha própria poesia, eu não quero me perder nos porões de meu coração, quero que as flores brotem, que possa brindar com uma taça de vinho e sorrir irônica: vida eu te sorvo e encaro, mas eu venço.

Pode parecer romântico, mas estou sendo absolutamente racional em perceber as nuances de minhas emoções, que de tanto tempo contidas,negadas, se veem em um turbilhão em que luz e sombra se alternam, e encaro meus demônios. No caleidoscópio deste instante, eu espero que a luz que me mantém viva seja reacesa, só espero conseguir dormir a noite e acordar pela manhã sem o desespero como companhia, posso dormir com meus fantasmas, mas não quero acordar sem ter esperanças.

T Sophie
Enviado por T Sophie em 24/06/2016
Reeditado em 21/08/2016
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