Viva, mas deixe morrer
Quem dera não pudesse pensar. Pensar adoece. Queria eu ter a liberdade mentirosa do místico, mas fui predisposto a estar perpetuamente ensimesmado com uma concepção trágica e cruel, mas fiel, da existência.
À existência, em sua totalidade, não alio mais do que dois conceitos: tempo e morte. É seguro dizer que abarcam a totalidade dos dias humanos; é também seguro afirmar a crueldade de um, vide a ininterruptividade das horas, e o mistério do outro, a qual nada sabemos embora possuamos certeza.
A passagem das horas, em direção ao fim, arduamente manifesta-se. Propõe-nos, no entanto, interesse. O interesse sôfrego em viver. Comer a vida sem espaço para digestão. Mas este interesse corta-nos, pois manifesta-se impraticável. Não há nada que impeça o homem de ser feliz, com sua própria e especial exceção.