De Mal Com o Mundo

Não encontrava motivos dentro de mim que justificasse tal revolta e isso estava me deixando louco, puto de verdade. Pensava demais e esse era o problema. Começou quando criança, talvez antes disso, sempre pensando, foi ali que começou minha verdadeira desgraça. O mundo era um lugar feio, as pessoas no geral eram feias, então me isolava, apenas eu, meus livros e meus pensamentos. Lá fora era verão e as crianças brincavam, eu apenas lia, devorava contos e estórias, muitas vezes inadequadas para minha idade. Foi uma infância pobre e difícil, dura pra cacete, aos dez anos já era quase adulto, rígido demais para um mundo inflexível. As coisas não melhoraram muito com a puberdade, todo mundo diz que se fica meio estranho nessa fase, bobagem, vocês não reconheceriam um estranho caso topassem com um, poucas sãos as pessoas que alcançam esse status, um mal que apenas um entre milhões pode carregar. Quando a idade adulta chegou já não havia muito a amadurecer, tudo que me restava eram os pensamentos, os malditos pensamentos. Ninguém gosta de pensar, essa merda deixa um homem maluco, louquinho de pedra, e a loucura como todos sabem é apenas uma designação idiota para aqueles que simplesmente não se encaixam no quebra-cabeça. Ninguém nunca me disse que era preciso se encaixar, que era preciso ser parte de algo maior, então criei o meu mundo, o meu jeito, as minhas merdas e defeitos, podia estar mal com o mundo, mal de verdade, mas estava bem comigo, então o resto todo podia ir se foder.